O ORO é o ritual presente nas
religiões de matrizes africanas que envolve o sacrifício animal, é uma prática
ritualística profundamente importante no culto aos Orixás, ritualísticas como Ebós e magias principalmente ligadas a Exu.
Esse ritual é mais presente em
casas de candomblé, quimbanda e Umbandas Traçadas, cruzadas, omoloko,
Umbandomblé e vertentes religiosas que simpatizam, compactuam e são adeptas destes fundamentos. Muitas vezes mal interpretado e alvo de preconceitos, esse
ato carrega consigo um significado religioso e cultural de grande profundidade.
O objetivo do texto não é promover o posicionamento contra ou à favor do ritual, mas elucidar que ele existe e trazer algumas informações à respeito do ato nos terreiros brasileiros.
A Importância do Oro
Para o povo do asé que vive e
compactua com esses fundamentos, o oro não é um ato de crueldade, mas sim uma
forma de oferenda aos Orixás, deidades que representam as forças da natureza e
da vida. É através do oro que estabelecemos uma comunicação mais profunda com o
divino, expressando nossa gratidão, realizando nossos pedidos e invocando
forças de magia para corte de demandas, desobstrução de caminhos entre outras
situações.
O sangue do animal, também
conhecido como Ejé, é considerado a força vital, é oferecido como um alimento
espiritual aos Orixás. Essa energia vital, em conjunto com as orações e
cânticos específicos e de tradição, cria um campo vibratório que nos conecta
com o sagrado.
Nas magias invertidas (amarrações, rituais de destruição e afins) é praticamente mandatório o uso do ritual de sacrifício animal, pois eles entendem que as entidades que serão envolvidas, invocadas, convocadas e ativadas naquele trabalho ganham força de magia com o sangue.
O ritual do ORO é tão sagrado e não surgiu na terra para prática do mal, todavia, a escolha das inversões de magia está muito além da nossa moralidade. Estudiosos e praticantes de magia que adquirem o conhecimento tem a liberdade e o livre arbítrio de usar essa energia como bem entendem, o que não os livra das consequências dessas escolhas e da aplicação da lei divina, bem como o retorno das maldades que foram praticadas.
Na sua essência é importante ressaltar que o ORO é uma ritualística de amor, de prática do bem a quem o pratica, mas infelizmente, ele existe de forma invertida como também existe maldades invertidas com a comida seca, com as frutas, ervas e outros elementos de magia na religião.
Cuidados e Respeito com os
Animais
É fundamental ressaltar que o oro
é realizado com o máximo respeito pelos animais. A escolha do animal é feita
com base em preceitos religiosos e na necessidade específica de cada ritual. O
abate é realizado por pessoas experientes, instrumentalizadas e com o mínimo de
sofrimento para o animal.
Após o sacrifício, cada parte do
animal tem um destino específico, seja como oferenda aos Orixás, para a
alimentação dos participantes do ritual ou para outros fins religiosos. Nada é
desperdiçado, pois tudo faz parte de um ciclo sagrado.
Causas que Precisam da Energia
do Oro
O oro é realizado em diversas
situações, como:
- Agradecimento: Quando desejamos expressar
nossa gratidão aos Orixás por bênçãos recebidas.
- Proteção: Para pedir proteção contra
energias negativas, doenças ou dificuldades.
- Cura: Em rituais de cura, o oro pode
auxiliar na limpeza espiritual e na restauração do equilíbrio energético.
- Iniciação: Durante os processos de
iniciação, o oro é utilizado para fortalecer a ligação entre o iniciado e
seu Orixá.
- Assentamentos: Para restabelecer o
equilíbrio entre os elementos da natureza e as forças cósmicas, para
limpar, fortalecer e empoderar assentamentos.
A Legalidade do Sacrifício
Animal no Brasil: Um Olhar Mais Aprofundado
A questão do sacrifício de
animais em rituais religiosos no Brasil é complexa e envolve um delicado
equilíbrio entre a liberdade religiosa e o bem-estar animal. A Constituição
Federal garante a liberdade religiosa, permitindo que indivíduos pratiquem seus
cultos de acordo com suas crenças. No entanto, essa liberdade não é absoluta e
deve ser conciliada com outros direitos, como o direito à vida e à dignidade
dos animais.
O Supremo Tribunal Federal (STF)
tem se manifestado de forma consistente sobre o tema, reconhecendo a
constitucionalidade do sacrifício de animais em rituais religiosos, desde que
realizados de forma adequada e sem crueldade. Em 28 de março de 2019, no
julgamento do Recurso Extraordinário 494.601, o STF validou a Lei Estadual
12.131/2004 do Rio Grande do Sul, que permite o sacrifício ritual de animais em
cultos de religiões de matriz africana. O Plenário do STF, por unanimidade,
entendeu que essa prática não se enquadra como maus-tratos, desde que
respeitados os princípios de dignidade e respeito aos animais.
O presidente do STF à época,
ministro Dias Toffoli, enfatizou que a decisão reflete a necessidade de
proteger a liberdade religiosa, especialmente em um contexto em que as
religiões afro-brasileiras enfrentam estigmatização e preconceito. Ainda, o
ministro Edson Fachin, em seu voto, destacou que a menção específica às
religiões de matriz africana não apresenta inconstitucionalidade, pois a
utilização de animais é intrínseca a esses cultos e, portanto, merece uma
proteção legal mais robusta.
Assim, destaca-se que a liberdade religiosa é um direito fundamental e que a proibição indiscriminada
de práticas religiosas poderia levar à intolerância e à discriminação. Além
disso, o Tribunal tem ressaltado a importância de se considerar o contexto
cultural e histórico das religiões de matriz africana, nas quais o sacrifício
animal possui um significado profundo e está ligado a aspectos fundamentais da
fé.
É importante reiterar que a
legalização do sacrifício de animais não significa que qualquer prática seja
permitida. O STF tem estabelecido alguns critérios para a realização desses
rituais, como a necessidade de que sejam realizados por pessoas habilitadas, em
locais adequados e com o mínimo de sofrimento para os animais. Além disso, a
legislação brasileira estabelece normas específicas para o transporte, abate e
destinação dos animais utilizados em rituais religiosos, visando garantir o
bem-estar animal e prevenir a disseminação de doenças.
A discussão sobre o sacrifício de
animais no Brasil envolve diversos aspectos, como:
- Bem-estar animal: A legislação brasileira
estabelece normas para garantir o bem-estar dos animais durante o abate,
buscando minimizar o sofrimento.
- Saúde pública: As autoridades sanitárias monitoram
os locais onde são realizados os rituais para garantir que não haja riscos
à saúde pública.
- Direitos humanos: A liberdade religiosa é um
direito fundamental, mas deve ser exercida de forma a não violar os
direitos de outras pessoas ou animais.
- Diversidade religiosa: O Brasil é um país
multicultural e a legislação deve ser capaz de contemplar as diferentes
práticas religiosas existentes.
Desafios e Perspectivas
Futuras
Apesar dos avanços legais, a
questão do sacrifício de animais continua sendo um desafio. A sociedade
brasileira é marcada por uma grande diversidade de opiniões sobre o tema, o que
gera debates acalorados e, muitas vezes, polarizados.
É fundamental que a sociedade
brasileira continue discutindo essa questão de forma aberta e democrática,
buscando encontrar soluções que conciliem a liberdade religiosa com o bem-estar
animal. A educação e a conscientização da população sobre as diferentes
religiões e suas práticas são essenciais para promover a tolerância e o
respeito mútuo.
É importante que a sociedade
compreenda o significado do oro para as religiões de matriz africana. Ao
desmistificar essa prática, contribuímos para a construção de um mundo mais
justo e tolerante, onde todas as religiões sejam respeitadas em sua diversidade.
O oro é um ato de fé para o povo
daquele contexto sagrado e de respeito pela vida. É fundamental ressaltar que a
prática do oro deve ser realizada por pessoas habilitadas e em locais
adequados, seguindo os preceitos religiosos e as leis vigentes.
Minha casa não é adepta ao oro:
tem problema?
Se a sua casa ou você é contra
esse ato e não se relaciona com ele, fique tranquilo. É fundamental compreender
que dentro das religiões de matriz africana existe uma grande diversidade de
práticas, vertentes, ensinamentos, fundamentos, doutrinas, dogmas, rituais e
crenças.
Nem todas as casas religiosas
praticam o oro (sacrifício animal), aliás, a adesão das práticas e ritos mudam de casa para casa, de doutrina para doutrina. Algumas casas optam por outras formas de
oferenda, como frutas, velas, bebidas, ou até mesmo orações e cânticos
específicos e conseguem ótimos resultados em utilizar o sacrifício.
É importante ressaltar que a
escolha de realizar ou não o oro é uma decisão que cabe ao sacerdote da casa.
Ao médium e frequentador cabe procurar um local que esteja alinhado aos seus
valores e desejos. Se o médium já é experiente e não tem vínculo com terreiros, ele é responsável pela sua caminhada. Não existe uma forma "certa" ou "errada" de
cultuar os Orixás. O que importa é a sinceridade das partes, a devoção e fé
daquele grupo e o respeito às diferentes tradições.
Apesar de não praticar o oro, é
fundamental que as casas que não realizam essa prática respeitem as casas que a
praticam. A intolerância religiosa não tem lugar nas religiões de matriz
africana. É importante promover o diálogo e o respeito mútuo entre as
diferentes linhas e vertentes dessas religiões. Somente assim as religiões de
asé terão mais forças como grupo e vão parar de enfraquecer seu lugar de fala
atacando um a casa do outro.
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