Pular para o conteúdo principal

CIÚMES NO TERREIRO: UM DESAFIO HUMANO E ESPIRITUAL – POR EDUARDO DE OXOSSI

 


Um terreiro é feito por pessoas e elas possuem diversas e diferentes emoções e personalidades, naturalmente levam esse turbilhão de conduta para o chão sagrado.

 

Dentro do ambiente sagrado de um terreiro de Umbanda onde a fé e a espiritualidade se encontram, os médiuns são constantemente desafiados a transcender suas próprias imperfeições humanas em busca de evolução espiritual.

 

Em meio a esse processo de autoconhecimento e desenvolvimento, o ciúmes pode surgir como uma sombra a obscurecer o seu caminho, colocando à prova a capacidade do indivíduo de lidar com suas emoções e sentimentos.

 

Compreendendo a Natureza do Ciúmes

 

O ciúmes, em sua essência, é um sentimento complexo que surge da percepção de uma ameaça a algo que consideramos nosso, seja um objeto, uma pessoa ou uma posição. No contexto do terreiro, o ciúmes pode se manifestar de diversas formas, como o receio de perder um cargo de destaque, a insegurança diante da chegada de novos membros ou a dificuldade em lidar com o sucesso de outros irmãos de fé.

É importante ressaltar que o ciúmes é uma emoção humana natural, presente em maior ou menor grau em todos nós. No entanto, quando essa emoção se torna excessiva e passa a controlar nossas ações e pensamentos que acarretam consequências negativas (mal estar, tristeza, fofoca, baixa estima, desmotivação, outros) ela pode se transformar em um obstáculo para o nosso crescimento espiritual e para a convivência deste médium para com seus irmãos, família de santo e comunidade.

 

Quais os tipos de Ciúmes que podem surgir no Terreiro?

 

Dentro do terreiro, o ciúmes pode se manifestar de diversas formas, cada uma com suas particularidades e desafios, abaixo vou dar exemplo de algumas possibilidades:

  • Ciúmes de Cargo: Ocorre quando um médium almeja um cargo de liderança ou destaque dentro do terreiro e sente ciúmes de outros irmãos que ocupam ou são indicados para essas posições, por exemplo, sentir ciúmes do médium de porteira, do médium que foi coroado à passe primeiro que você, ciúmes de quem recebeu um projeto para liderar, etc.
  • Ciúmes de novos Irmãos: Surge quando um médium mais velho de casa se sente ameaçado pela chegada de novos membros. Esse médium precisa entender que assim como ele teve plena atenção dos pais para tornar-se o que ele é hoje, os filhos recém chegados precisam da mesma atenção. Imagine uma família comum em que já existiam 3 filhos e chaga um recém-nascido, é natural que a atenção dos pais fiquem em maior parte a esse bebê até que ele comece a ter autonomia sobre a vida.
  • Ciúmes de Relacionamento: Pode ocorrer quando um médium tem um relacionamento amoroso com outro membro do terreiro e sente ciúmes de outras pessoas que se aproximam de seu parceiro ou parceira. Isso pode acontecer inclusive quando o parceiro (a) se sente ameaçado de ver o seu amor incorporado atendendo clientes que possa gerar ameaça ou desconforto/ciúmes, por exemplo, um homem atendendo uma mulher atraente ou uma mulher atendendo um homem atraente.
  • Ciúmes de guias e clientes: Manifesta-se quando um médium sente ciúmes de ver o cliente que gostava de passar com ele escolhendo e experimentando outros médiuns, ou ainda, ciúmes quando você gosta de um determinado guia e vê outras pessoas passando com ele. Vamos lembrar que os guias não são de ninguém, eles estão lá para prestar a caridade à todos.

 

Existem muitas outras formas de ciúmes e é importante entender o que é para sabermos identificar em nós. 


Autogerenciamento do Ciúmes: Um conselho do T.U.S. Caboclo Pena Verde e Flecheiro de Aruanda

 

O primeiro passo para lidar com o ciúmes dentro do terreiro é reconhecer a presença desse sentimento em nós mesmos. É importante não negar, esconder ou reprimir o ciúmes, mas sim acolhê-lo como uma emoção natural e buscar compreender suas causas e motivações.

Em seguida, é fundamental desenvolver o autoconhecimento, buscando identificar quais são os gatilhos que desencadeiam o ciúmes em nós. Quais são as situações ou pessoas que nos fazem sentir ameaçados ou inseguros? Ao compreender nossos próprios padrões emocionais, podemos começar a trabalhar para transformar o ciúmes em uma oportunidade de crescimento.

A prática da humildade e da empatia também é essencial para lidar com o ciúmes. Ao reconhecer que cada pessoa tem seu próprio caminho e seu próprio tempo de desenvolvimento, podemos evitar comparações e julgamentos, cultivando a alegria pelo sucesso dos outros.

O médiuns e pessoas que entram em um terreiro buscando evolução espiritual precisam praticar o AUTOGERENCIAMENTO, ou seja, são eles mesmos os responsáveis por aceitar, entender e identificar essas situações e elaborar essas emoções, pois ninguém no mundo virá cuidar de cada crise de ciúmes que sentimos na rua, no trabalho, em casa, na família, portanto, no terreiro.

Ser adulto é cuidar de si. Ser adulto é ser maduro. Ser adulto é comportar-se como um adulto. O ciúmes é aquela centelha plantada na infância da qual não podemos deixar que nos controle mais. Ser adulto é lidar com a vida, inclusive com esses obstáculos de emoções.

 

A Importância do Diálogo e do Aconselhamento

 

Dentro do terreiro, o diálogo aberto e sincero é fundamental para lidar com o ciúmes. É importante que os médiuns se sintam à vontade para conversar com seus guias e dirigentes espirituais, seus pais ou mães de santo e outros membros mais experientes sobre seus sentimentos e dificuldades, principalmente se não estão conseguindo lidar com isso sozinhos.

O aconselhamento espiritual pode ser de grande ajuda para os médiuns que estão enfrentando desafios com o ciúmes. Ao receber orientações e ensinamentos, é possível desenvolver novas perspectivas e ferramentas para lidar com essa emoção de forma mais saudável e construtiva.

Um outro tipo de aconselhamento fundamental para lidar com as emoções é a psicoterapia. Procurar um psicólogo para ajudar a entender as crises de ciúmes, o por que você se sente ameaçado ou desconfortável com o outro pode ajudá-lo a encontrar essa paz no seu coração.

 

Superando o Ciúmes em Busca da Evolução Espiritual

Ao longo de nossa jornada espiritual, somos constantemente desafiados a superar nossas próprias imperfeições e a transcender nossas emoções negativas. O ciúmes, quando compreendido e trabalhado de forma adequada, pode se tornar um catalisador de crescimento, impulsionando-nos a buscar a humildade, a empatia e o amor ao próximo.

Quanto mais cedo aprendermos a controlar o ciúmes de coisas, pessoas e situações em nossa vida, mais cedo encontraremos a qualidade de vida e o bem-estar que tanto almejamos. Não precisamos nos sentir ameaçados por não estarmos no centro das atenções o tempo todo. Cada um de nós tem seu próprio papel e sua própria importância dentro do terreiro e na vida.

Lembremos sempre que a Umbanda é uma religião de amor, comunidade e caridade, que nos convida a olhar para o próximo com compreensão e compaixão. Ao cultivarmos esses valores em nosso coração, o ciúmes perde sua força e dá lugar à união, à fraternidade e ao respeito mútuo.

Oferecer e permitir que o outro também tenha espaço no terreiro não necessariamente precisa ser algo pelo qual nos sintamos ameaçados.

Pensem nisso!

 

Pai Eduardo de Oxossi

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TRABALHOS COM CABEÇA DE CERA NA UMBANDA

INTRODUÇÃO A Cabeça é o lugar mais sagrado para o Umbandista. É ali que vive o seu Ori, sua coroa, sua mente, seu cérebro, o início dos seus chacras, etc. Trabalhos com cabeça de cera devem ser feitos por pessoas experientes e fundamentadas. Na dúvida sobre o que ou como fazer, sempre consulte o pai de santo de sua confiança.  CABEÇA DE CERA PARA OXUM: PEDIDOS E PROMESSAS Oxum é muito conhecida por receber cabeças de cera em seus trabalhos, seja ele para amor (embora a Umbanda em si seja contra trabalhos de amarrações) ou para outros pedidos.  Em São Paulo está localizado o Santuário de Aparecida do Norte. Lá é recebido diariamente muitas peças de cera em pedido ou agradecimento de graças alcançadas por seus fiéis.  Podemos fazer cabeça de cera para cura, para melhorar os pensamentos, clarear as ideias, etc.  CABEÇA DE CERA COM YEMANJÁ: CALMA, LIMPEZA E DISCERNIMENTO.  Yemanjá é a mãe de todos. Este trabalho é indicado para acalmar...

NOMES DE MARINHEIROS E MARINHEIRAS NA UMBANDA

A Umbanda é uma religião 100% brasileira que se utiliza de conceitos de outras religiões como as religiões indígenas, o espiritismo, o catolicismo, etc. Como tal, apresenta uma ampla linha de trabalho pautada em diferentes culturas. Uma delas é a linha de marinheiros regida diretamente por Yemanjá e indiretamente por outros Orixás (Dependendo de onde aquele marinheiro é). Algumas casas de Umbanda tratam a linha de Marinheiro como vibração direcionada a Linha D'Agua: Oxum (Marinheiros de águas doces), Yemanjá (Marinheiro dos mares), Nanã (Marinheiro de águas turvas), Yansã (Marinheiro de águas agitadas e tempestades). Mas nada impede de termos um marinheiro ligado aos outros orixás: Pescadores (Oxossi/Yemanjá/Oxum), soldados da marinha (Ogum), profissionais e mercadores do porto (Oxossi), etc. Já o Candomblé segue nações (Ketu, Gêge, Nago) e como tal, sua doutrina antecede a Umbanda (religião criada posteriormente) e nem todas elas reconhecem a linha de marinheiros, a...

A HISTÓRIA DO EXU SETE COVAS

Autor: Eduardo de Oxossi (Dirigente espiritual do T.U.S. Caboclo Pena Verde e Flecheiro de Aruanda). Sempre que lermos um texto "a história do guia tal" devemos ter em mente que aquela história é daquele guia e não da falange toda, ou seja, neste texto, por exemplo, vamos contar a história de um Exu Sete Covas e não a história de toda falange Sete Covas. Na dúvida sobre este assunto, procure o pai de santo de sua confiança e conheça a doutrina da casa que você frequenta.  Se você trabalha com Exu Sete Covas, ele mesmo pode lhe contar a história dele ou à um cambone se for permitido. Boa leitura!  EXU SETE COVAS Exu Sete Covas em vida foi um escravo muito bonito que era protegido pelas mulheres brancas de sete fazendas da região. As mulheres (donas e sinhás usavam o escravo entre elas como objeto de desejo sexual na ausência de seus maridos). Mascaravam, esta situação alegando que o escravo era um ótimo funcionário para serviços pesados domésticos....