Pular para o conteúdo principal

O PRECEITO NA UMBANDA: DO QUE ESTAMOS FALANDO?

 


 

Preceito não é um termo exclusivo da religião. Se olharmos para o dicionário veremos essa palavra traduzindo uma regra, norma ou princípio que guia o comportamento, ou seja, uma orientação que deve ser seguida em um tratamento médico (Você não pode comer XX horas de tirar o sangue), em um ambiente espiritual (Você não pode comer carne vermelha no dia da incorporação), religioso (Você não pode falar palavrão nos 40 dias da quaresma), no âmbito jurídico (você não pode se aproximar XX metros dessa pessoa ou lugar) e afins.

No campo religioso, o preceito aparece como um período de recolhimento e dedicação, onde o médium se prepara para receber as energias sagradas e desenvolver suas faculdades mediúnicas. É um momento de purificação e preparo onde busca-se obter e atingir a harmonia entre o corpo, a mente e o espírito.

Na religião de um modo geral, ele é atrelado a uma espécie de mandamento que deve ser seguido pelos adeptos de uma determinada crença. Por exemplo, na Igreja Católica, a quaresma dita seus preceitos. No Candomblé, os filhos de Orixá têm seus preceitos e quizilas de santo e assim por diante. Diante dessa variedade e complexidade de preceitos, há de se considerar que o que serve para religião “X” ou terreiro “Y” não necessariamente serve para você.

Vamos falar especificamente da Umbanda? O preceito na Umbanda tem variações de casa para casa, de doutrina para doutrina e do tipo de vertente de Umbanda que se pratica. É um processo íntimo e individual, onde cada médium estabelece uma conexão mais profunda com a espiritualidade e seus guias espirituais, rituais estes que tenham ligação e significado com a umbanda que praticam e aprenderam.

Porque inventaram o preceito na religião? Porque ele é necessário? Embora não sejam todas as casas e terreiros que adotem o preceito, os lugares que o fazem tem em mente que esse ato purifica o corpo do médium para potencializar a conexão espiritual.

 

Preceito de Purificação


 Através do preceito, o médium se purifica de energias negativas e vibrações inferiores, tornando-se um canal mais puro para a manifestação das forças espirituais. Por exemplo, evitar brigar com as pessoas e falar palavrão na semana ou dia da gira pode ser um ritual para limpar a sua língua antes de emprestar seu corpo para mensagem espiritual do caboclo que vai incorporar em você na sexta.

Não adianta amaldiçoar alguém no trânsito à caminho do terreiro e depois usar o corpo para falar que o consulente precisa ter paciência no trânsito. Mascar ataré antes dos trabalhos mediúnicos pode ser um preceito de purificação. Ficar XX dias sem fazer sexo pode ser outro exemplo de preceito de purificação.

 

Preceito de Consagração

O preceito de consagração pode ser um ritual permanente de respeito, entrega e consagração a Orixá, por exemplo, filhos de Oxalá não podem com cores escuras, filhos de Oxossi não podem com mel, filhos de nanã não podem com ferro e assim por diante.

Abdicar-se de algo, de algum alimento, vestimenta, ato, alimento ou visitar determinado lugar pode ser um ato de preceito de consagração cujo objetivo é respeitar o Orixá, evitar más energias na vida e manter o corpo alinhado e os nossos caminhos abertos.  


Preceito de Desenvolvimento Mediúnico

O preceito de desenvolvimento proporciona as condições ideais para o avanço das faculdades mediúnicas, como a intuição, a clarividência e a clariaudiência. Não adianta usar álcool e outras drogas antes de ir a gira, ou ainda, comer determinados alimentos conforme as regras estabelecidas pela sua casa (exemplo: carne vermelha, outros).

No T.U.S. Caboclo Pena Verde e Flecheiro de Aruanda nós contraindicamos a carne vermelha por ela ser indigesta podendo causar algum mal estar físico do médium e não necessariamente pelo fato da carne vermelha ter haver com o corpo de cristo ou outra interpretação. Em todo caso, não é porque a casa “A” tem a explicação diferente da “B” que uma está mais certa do que a outra.

O importante é que o médium fazendo parte de uma comunidade de asé siga os preceitos conforme as regras da sua casa e tenha entendimento do porque daquilo. Outro preceito de desenvolvimento pressentes em algumas casas é que a médium mulher não atue quando estiver menstruada.

 

Fortalecimento da Fé


Longe de estabelecer com o leitor o que é certo ou errado, o que é hipocrisia, sagrado, profano, o que faz ou não sentido, vamos resgatar que a função desse texto é trazer ao leitor diversos olhares sobre o tema “Preceito” e nós concordando ou não, ele existe das mais diferentes formas na casa de asé.

Ao vivenciar o preceito, o médium fortalece sua fé, mantém seu corpo e mente limpo e consequentemente eleva a sua conexão com a espiritualidade, encontrando um novo significado para a vida.

O Preceito somente fará sentido para as pessoas que vivem aquela verdade, aquela crença, aquela doutrina e comunidade, portanto, não adianta o evangélico ditar seu preceito ao umbandista e vice versa. O conceito de preceito, resguardo e cuidados espirituais é peculiar e particular a cada comunidade religiosa.

 

Os Aspectos do Preceito

 

O preceito pode englobar diversos aspectos, como:

 

Alimentação: Uma dieta equilibrada e leve, com alimentos que vibram em alta frequência, contribui para a purificação do corpo físico, evitando alimentos que representem alguma quizila de Orixá, evitando alimentos que fazem mal ao médium, como por exemplo, a pessoa que tem diabetes evita determinados alimentos, a pessoa que tem pressão baixa evita outros, a pessoa que tem pressão alta evita outros e assim por diante. Cuidar da alimentação é necessário para que o médium não passe mal por isso e ache que ali teve alguma obsessão, algum ataque espiritual ou afim.

Higiene: A higiene pessoal e do ambiente são fundamentais para manter um campo vibratório elevado. Imagine que desagradável o médium atender o consulente com mau cheiro, mau hálito, mão suja e afins. Se o corpo do médium é sujo, por que o passe seria diferente? É essencial o preceito de banho físico, mas também o banho de ervas.

Pensamentos e Emoções: É preciso cultivar pensamentos positivos e controlar as emoções negativas, pois elas influenciam diretamente no nosso campo energético. Se a gente tem um dia ruim, será que a gente não passa aquilo para o cliente? Como lidar com as emoções antes da incorporação? Essas são questões que o médium precisa estar muito alinhado com seu guia e com o terreiro que atua.

Preceito de Lugares: O preceito de lugares pode nos impedir por exemplo, fique XX dias sem ir ao cemitério, fique XX dias sem ir à balada, fique XX dias sem ir à praia e assim por diante.

Preceito de Meditação: O preceito de meditação exige que seus médiuns meditem XX minutos, horas ou dias antes da gira com intuito de acalmar suas mentes e fortalecer a conexão com o sagrado.

 

Para finalizar, penso que o preceito não se encerra com o término de um período determinado ou no fim da gira de sexta. Ele se torna um estilo de vida, uma busca constante pela evolução espiritual. A cada dia, devemos nos esforçar para manter a pureza e a elevação espiritual conquistadas durante o período de recolhimento.

Devemos aderir preceitos pensando no bem-estar do nosso corpo e na qualidade do atendimento espiritual dos consulentes, mas a escolha do que e como fazer preceito é muito particular à história e valores do médium, à doutrina e fundamento do terreiro e assim por diante. O Ideal é conversar sobre preceito com o seu dirigente para que você entenda como ele pensa, por que pensa daquela maneira e por que é importante aquele procedimento.

Muitos preceitos podem soar como um absurdo nos nossos ouvidos, ainda mais se não soubermos o porque de estarmos fazendo aquilo. Como eu costumo dizer aos meus filhos:

 

“Não posso opinar pelo preceito da casa XX por que eu não convivo lá, eu posso opinar sobre os preceitos da minha casa”.

 

Independente do preceito, também gostaria de alertar e concluir que não seja nada que coloque o médium em risco, em ritual de humilhação ou abuso. O preceito é para elevar nossa conexão com o sagrado. Cuidado com as invenções de internet!

 

Axé! 

Pai Eduardo de Oxossi

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TRABALHOS COM CABEÇA DE CERA NA UMBANDA

INTRODUÇÃO A Cabeça é o lugar mais sagrado para o Umbandista. É ali que vive o seu Ori, sua coroa, sua mente, seu cérebro, o início dos seus chacras, etc. Trabalhos com cabeça de cera devem ser feitos por pessoas experientes e fundamentadas. Na dúvida sobre o que ou como fazer, sempre consulte o pai de santo de sua confiança.  CABEÇA DE CERA PARA OXUM: PEDIDOS E PROMESSAS Oxum é muito conhecida por receber cabeças de cera em seus trabalhos, seja ele para amor (embora a Umbanda em si seja contra trabalhos de amarrações) ou para outros pedidos.  Em São Paulo está localizado o Santuário de Aparecida do Norte. Lá é recebido diariamente muitas peças de cera em pedido ou agradecimento de graças alcançadas por seus fiéis.  Podemos fazer cabeça de cera para cura, para melhorar os pensamentos, clarear as ideias, etc.  CABEÇA DE CERA COM YEMANJÁ: CALMA, LIMPEZA E DISCERNIMENTO.  Yemanjá é a mãe de todos. Este trabalho é indicado para acalmar...

NOMES DE MARINHEIROS E MARINHEIRAS NA UMBANDA

A Umbanda é uma religião 100% brasileira que se utiliza de conceitos de outras religiões como as religiões indígenas, o espiritismo, o catolicismo, etc. Como tal, apresenta uma ampla linha de trabalho pautada em diferentes culturas. Uma delas é a linha de marinheiros regida diretamente por Yemanjá e indiretamente por outros Orixás (Dependendo de onde aquele marinheiro é). Algumas casas de Umbanda tratam a linha de Marinheiro como vibração direcionada a Linha D'Agua: Oxum (Marinheiros de águas doces), Yemanjá (Marinheiro dos mares), Nanã (Marinheiro de águas turvas), Yansã (Marinheiro de águas agitadas e tempestades). Mas nada impede de termos um marinheiro ligado aos outros orixás: Pescadores (Oxossi/Yemanjá/Oxum), soldados da marinha (Ogum), profissionais e mercadores do porto (Oxossi), etc. Já o Candomblé segue nações (Ketu, Gêge, Nago) e como tal, sua doutrina antecede a Umbanda (religião criada posteriormente) e nem todas elas reconhecem a linha de marinheiros, a...

A HISTÓRIA DO EXU SETE COVAS

Autor: Eduardo de Oxossi (Dirigente espiritual do T.U.S. Caboclo Pena Verde e Flecheiro de Aruanda). Sempre que lermos um texto "a história do guia tal" devemos ter em mente que aquela história é daquele guia e não da falange toda, ou seja, neste texto, por exemplo, vamos contar a história de um Exu Sete Covas e não a história de toda falange Sete Covas. Na dúvida sobre este assunto, procure o pai de santo de sua confiança e conheça a doutrina da casa que você frequenta.  Se você trabalha com Exu Sete Covas, ele mesmo pode lhe contar a história dele ou à um cambone se for permitido. Boa leitura!  EXU SETE COVAS Exu Sete Covas em vida foi um escravo muito bonito que era protegido pelas mulheres brancas de sete fazendas da região. As mulheres (donas e sinhás usavam o escravo entre elas como objeto de desejo sexual na ausência de seus maridos). Mascaravam, esta situação alegando que o escravo era um ótimo funcionário para serviços pesados domésticos....