Muitos casos de vícios batem na porta do terreiro de Umbanda procurando ajuda espiritual para libertação de círculos destrutivos causados por eles. Embora a ajuda espiritual seja muito eficaz, é preciso que o médium de terreiro tenha em mente que esse é um caso complexo, multidisciplinar e não podemos misturar as coisas.
A dependência de substâncias ou comportamentos, comumente
chamados de vício, é um problema de saúde mental que afeta milhões de pessoas
em todo o mundo. Muitas vezes, a sociedade enxerga o vício como uma questão de
falta de caráter ou de fraqueza, mas a realidade é muito mais profunda e
envolve uma série de fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Por que as pessoas se envolvem em vícios?
A resposta a essa pergunta não é simples e varia de pessoa
para pessoa e de caso a caso. No entanto, alguns fatores comuns podem
desencadear o desenvolvimento de um vício:
- Fatores
biológicos: A genética pode predispor algumas pessoas a serem mais
vulneráveis ao desenvolvimento de dependência. Além disso, as substâncias
viciantes alteram a química do cérebro, causando alterações duradouras que
dificultam a interrupção do uso. Casos registrado de vícios na árvore
genealógica da família, embora não necessariamente resultem na
continuidade de dependentes, contribuem com agravamento ou atenuantes em
situações de vícios, além de potencializar estados físicos de
vulnerabilidade fisiológica, neurológica e assim por diante. Guias espirituais
tem pouco ou quase nada para atuar em aspectos biológicos e genéticos que
determinam o comportamento humano. E vamos combinar que nem é o papel do
guia espiritual intervir na genética humana.
- Fatores
psicológicos: Traumas, estresse crônico, ansiedade, depressão e baixa
autoestima, falhas na formação da personalidade e repertórios
comportamentais podem levar as pessoas a buscar alívio em substâncias ou
comportamentos que proporcionam prazer imediato. São infinitas as possibilidades
que levam e tiram pessoas destas situações e isso é tratado na terapia,
psicoterapia, psicanálise, psiquiatria e afins.
- Fatores
sociais: O ambiente familiar, os amigos, a cultura, o ambiente de
trabalho e a pressão social podem influenciar o desenvolvimento ou saída de
um vício. Pessoas que crescem em famílias com histórico de dependência ou
que frequentam ambientes tóxicos, traumáticos onde o uso de drogas é comum
têm maior risco de desenvolver o problema. Por outro lado, não podemos
generalizar que todos que tenham vindo de uma família de péssima criação
será uma pessoa com problemas de vícios.
Os exemplos citados acima falam do conceito de
biopsicosocioespiritualidade, ou seja, é importante que tenhamos lucidez de que
o ser humano é multideterminado e que nem tudo na vida será resolvido com um
descarrego, uma oferenda ou intervenção espiritual se naquele caso há ligações
físicas com a família, com o meio, com a química, com as amizades, com a
genética e com outras ligações que sustentam o vício.
Por que sair do vício é tão difícil?
O vício é uma doença crônica que requer tratamento contínuo
e pode causar recaídas. A dificuldade em abandonar o vício está relacionada a
diversos fatores, como:
- Dependência física: O corpo se adapta à presença da substância, desenvolvendo tolerância e dependência física. A interrupção abrupta do uso pode causar sintomas de abstinência intensos e desconfortáveis. Traumas e frustrações no processo de desintoxicação podem levar a recaídas. Nos trabalhos de vício é crucial um plano de tratamento pré, durante e pós uso de toxinas. Trata-se de uma intervenção contínua que pode levar, meses e anos. Não será em uma gira, ou em um passe que aquele vício vai ser encerrado.
- Dependência
psicológica: O vício cria um ciclo vicioso de recompensa e punição. A
busca por alívio e prazer leva ao uso da substância, mas a longo prazo, as
consequências negativas do vício causam sofrimento e culpa.
- Hábitos
e rotinas: O vício se torna parte da rotina da pessoa, influenciando
suas relações sociais, trabalho e lazer. Quebrar esses hábitos e construir
novas rotinas é um processo desafiador.
- Fatores
emocionais: O vício é frequentemente usado como uma forma de lidar com
emoções dolorosas. Aprender a lidar com essas emoções de forma saudável é
fundamental para a recuperação.
- Fatores espirituais: Embora não possamos atribuir o peso única e exclusivamente de vícios a seres e energias negativas, para nós Umbandistas, acreditamos sim que espíritos e seres negativos podem se aproveitar e contribuir para que uma pessoa tenha seus caminhos fechados pelo vício. Não é à toa que as entidades da esquerda, as entidades da linha de malandros e outras estão ali ajudando e apoiando pessoas a vencer essas batalhas.
O papel dos grupos de apoio
Os grupos de apoio, incluindo a RELIGIÃO desempenham um
papel fundamental no tratamento da dependência. Ao compartilhar suas
experiências e desafios com outras pessoas que estão passando pela mesma
situação, os indivíduos se sentem menos isolados e mais motivados a buscar a
recuperação.
A família, a escola, a religião e outros grupos sociais
podem oferecer suporte emocional e prático durante o processo de recuperação. É
importante ressaltar que o apoio da família é crucial, mas ela precisa aprender
a lidar com a situação de forma saudável, evitando a codependência e a culpa.
A ressalva desse texto é apenas para que não se misturem os
papeis. Não se deve atribuir a nenhum grupo de apoio (família, religião, etc) o
peso de ficar responsável de eliminar o vício. Esse peso, se é que podemos chama-lo
assim, é uma energia que precisa ser diluída em toda cadeia de envolvidos, mas
principalmente trazendo o usuário para responsabilidade dos seus atos e o real
comprometimento dele em aceitar essa ajuda e seguir firme junto ao grupo de
apoio rumo à sua liberdade e resgate da sua dignidade e rotina fora dos vícios
que estão destruindo-o.
O papel da espiritualidade
A espiritualidade pode ser uma fonte de força e esperança
para muitas pessoas em recuperação. No entanto, é importante diferenciar a
espiritualidade da religião. A espiritualidade se refere à busca por
significado e propósito na vida, enquanto a religião está associada a um
conjunto de crenças e práticas específicas.
A espiritualidade pode ajudar a pessoa a encontrar um
sentido mais profundo para a vida e a desenvolver um senso de conexão com algo
maior do que si mesma. No entanto, a recuperação não depende exclusivamente da
espiritualidade. É fundamental que a pessoa busque tratamento profissional e
participe de grupos de apoio.
A importância da disciplina, foco e determinação
A recuperação do vício exige um grande esforço pessoal. A
disciplina, o foco e a determinação são qualidades essenciais para superar os
desafios do tratamento e manter a abstinência. A pessoa precisa estar disposta
a mudar seus hábitos, a estabelecer novas metas e a buscar o apoio de outras
pessoas.
Um caminho desafiador, mas possível
A recuperação do vício é um processo complexo e desafiador,
mas é possível. Com o tratamento adequado, o apoio de familiares e amigos e a
determinação do indivíduo, é possível superar a dependência e reconstruir uma
vida mais saudável e feliz.
O vício é uma doença complexa que envolve fatores
biológicos, psicológicos e sociais. Sair do vício é difícil, mas com o
tratamento adequado, o apoio de grupos de apoio e a determinação do indivíduo,
é possível alcançar a recuperação. A espiritualidade pode ser uma fonte de
força e esperança, mas não é a única solução. A disciplina, o foco e a
determinação são essenciais para superar os desafios do tratamento e manter a
abstinência.
Se você ou alguém que você conhece está lutando contra um
vício, procure ajuda profissional.
Fontes de pesquisa para saber mais sobre esse assunto:
- Alcoolistas
Anônimos (AA)
- Narcoticos
Anônimos (NA)
- Associação
Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD)
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