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O LADO PSICOLÓGICO DO VÍCIO: NEM TUDO É ESPIRITUAL – POR EDUARDO DE OXOSSI

 


Muitos casos de vícios batem na porta do terreiro de Umbanda procurando ajuda espiritual para libertação de círculos destrutivos causados por eles. Embora a ajuda espiritual seja muito eficaz, é preciso que o médium de terreiro tenha em mente que esse é um caso complexo, multidisciplinar e não podemos misturar as coisas.   

A dependência de substâncias ou comportamentos, comumente chamados de vício, é um problema de saúde mental que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Muitas vezes, a sociedade enxerga o vício como uma questão de falta de caráter ou de fraqueza, mas a realidade é muito mais profunda e envolve uma série de fatores biológicos, psicológicos e sociais.

Por que as pessoas se envolvem em vícios?

A resposta a essa pergunta não é simples e varia de pessoa para pessoa e de caso a caso. No entanto, alguns fatores comuns podem desencadear o desenvolvimento de um vício:

  • Fatores biológicos: A genética pode predispor algumas pessoas a serem mais vulneráveis ao desenvolvimento de dependência. Além disso, as substâncias viciantes alteram a química do cérebro, causando alterações duradouras que dificultam a interrupção do uso. Casos registrado de vícios na árvore genealógica da família, embora não necessariamente resultem na continuidade de dependentes, contribuem com agravamento ou atenuantes em situações de vícios, além de potencializar estados físicos de vulnerabilidade fisiológica, neurológica e assim por diante. Guias espirituais tem pouco ou quase nada para atuar em aspectos biológicos e genéticos que determinam o comportamento humano. E vamos combinar que nem é o papel do guia espiritual intervir na genética humana.
  • Fatores psicológicos: Traumas, estresse crônico, ansiedade, depressão e baixa autoestima, falhas na formação da personalidade e repertórios comportamentais podem levar as pessoas a buscar alívio em substâncias ou comportamentos que proporcionam prazer imediato. São infinitas as possibilidades que levam e tiram pessoas destas situações e isso é tratado na terapia, psicoterapia, psicanálise, psiquiatria e afins.
  • Fatores sociais: O ambiente familiar, os amigos, a cultura, o ambiente de trabalho e a pressão social podem influenciar o desenvolvimento ou saída de um vício. Pessoas que crescem em famílias com histórico de dependência ou que frequentam ambientes tóxicos, traumáticos onde o uso de drogas é comum têm maior risco de desenvolver o problema. Por outro lado, não podemos generalizar que todos que tenham vindo de uma família de péssima criação será uma pessoa com problemas de vícios.

 

Os exemplos citados acima falam do conceito de biopsicosocioespiritualidade, ou seja, é importante que tenhamos lucidez de que o ser humano é multideterminado e que nem tudo na vida será resolvido com um descarrego, uma oferenda ou intervenção espiritual se naquele caso há ligações físicas com a família, com o meio, com a química, com as amizades, com a genética e com outras ligações que sustentam o vício.

 

Por que sair do vício é tão difícil?

O vício é uma doença crônica que requer tratamento contínuo e pode causar recaídas. A dificuldade em abandonar o vício está relacionada a diversos fatores, como:

  • Dependência física: O corpo se adapta à presença da substância, desenvolvendo tolerância e dependência física. A interrupção abrupta do uso pode causar sintomas de abstinência intensos e desconfortáveis. Traumas e frustrações no processo de desintoxicação podem levar a recaídas. Nos trabalhos de vício é crucial um plano de tratamento pré, durante e pós uso de toxinas. Trata-se de uma intervenção contínua que pode levar, meses e anos. Não será em uma gira, ou em um passe que aquele vício vai ser encerrado.
  • Dependência psicológica: O vício cria um ciclo vicioso de recompensa e punição. A busca por alívio e prazer leva ao uso da substância, mas a longo prazo, as consequências negativas do vício causam sofrimento e culpa.
  • Hábitos e rotinas: O vício se torna parte da rotina da pessoa, influenciando suas relações sociais, trabalho e lazer. Quebrar esses hábitos e construir novas rotinas é um processo desafiador.
  • Fatores emocionais: O vício é frequentemente usado como uma forma de lidar com emoções dolorosas. Aprender a lidar com essas emoções de forma saudável é fundamental para a recuperação.
  • Fatores espirituais: Embora não possamos atribuir o peso única e exclusivamente de vícios a seres e energias negativas, para nós Umbandistas, acreditamos sim que espíritos e seres negativos podem se aproveitar e contribuir para que uma pessoa tenha seus caminhos fechados pelo vício. Não é à toa que as entidades da esquerda, as entidades da linha de malandros e outras estão ali ajudando e apoiando pessoas a vencer essas batalhas.

O papel dos grupos de apoio

Os grupos de apoio, incluindo a RELIGIÃO desempenham um papel fundamental no tratamento da dependência. Ao compartilhar suas experiências e desafios com outras pessoas que estão passando pela mesma situação, os indivíduos se sentem menos isolados e mais motivados a buscar a recuperação.

A família, a escola, a religião e outros grupos sociais podem oferecer suporte emocional e prático durante o processo de recuperação. É importante ressaltar que o apoio da família é crucial, mas ela precisa aprender a lidar com a situação de forma saudável, evitando a codependência e a culpa.

A ressalva desse texto é apenas para que não se misturem os papeis. Não se deve atribuir a nenhum grupo de apoio (família, religião, etc) o peso de ficar responsável de eliminar o vício. Esse peso, se é que podemos chama-lo assim, é uma energia que precisa ser diluída em toda cadeia de envolvidos, mas principalmente trazendo o usuário para responsabilidade dos seus atos e o real comprometimento dele em aceitar essa ajuda e seguir firme junto ao grupo de apoio rumo à sua liberdade e resgate da sua dignidade e rotina fora dos vícios que estão destruindo-o.

 

O papel da espiritualidade

A espiritualidade pode ser uma fonte de força e esperança para muitas pessoas em recuperação. No entanto, é importante diferenciar a espiritualidade da religião. A espiritualidade se refere à busca por significado e propósito na vida, enquanto a religião está associada a um conjunto de crenças e práticas específicas.

A espiritualidade pode ajudar a pessoa a encontrar um sentido mais profundo para a vida e a desenvolver um senso de conexão com algo maior do que si mesma. No entanto, a recuperação não depende exclusivamente da espiritualidade. É fundamental que a pessoa busque tratamento profissional e participe de grupos de apoio.

 

A importância da disciplina, foco e determinação

A recuperação do vício exige um grande esforço pessoal. A disciplina, o foco e a determinação são qualidades essenciais para superar os desafios do tratamento e manter a abstinência. A pessoa precisa estar disposta a mudar seus hábitos, a estabelecer novas metas e a buscar o apoio de outras pessoas.

 

Um caminho desafiador, mas possível

A recuperação do vício é um processo complexo e desafiador, mas é possível. Com o tratamento adequado, o apoio de familiares e amigos e a determinação do indivíduo, é possível superar a dependência e reconstruir uma vida mais saudável e feliz.

O vício é uma doença complexa que envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais. Sair do vício é difícil, mas com o tratamento adequado, o apoio de grupos de apoio e a determinação do indivíduo, é possível alcançar a recuperação. A espiritualidade pode ser uma fonte de força e esperança, mas não é a única solução. A disciplina, o foco e a determinação são essenciais para superar os desafios do tratamento e manter a abstinência.

Se você ou alguém que você conhece está lutando contra um vício, procure ajuda profissional.

Fontes de pesquisa para saber mais sobre esse assunto:

  • Alcoolistas Anônimos (AA)
  • Narcoticos Anônimos (NA)
  • Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD)

Ao levar o seu vício para ser tratado em um terreiro ou se você é médium e tiver que lidar com um caso de vícios, tenham em mente que essa luta é multidisciplinar e não um peso para que o ZÉ PELINTRA SOZINHO TENHA QUE VIR RESOLVER. 

Nenhum guia espiritual é responsável pelas consequências das escolhas humanas e da sociedade. O papel do guia ali é tentar levar luz onde as atitudes estão caminhando para trevas, ruínas e desgraças. 

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