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ANIMISMO NA UMBANDA: QUANDO DUAS ALMAS SE ENCONTRAM NA INCORPORAÇÃO

 


Texto de Pai Eduardo de Oxossi

Blog Baiano Juvenal – mantenha a referência!

 

Você já ouviu falar em animismo? Animismo é o fenômeno e a crença que atribui vida espiritual a todos os seres, incluindo animais, plantas, rochas, terras e águas. O termo vem do latim animus, que significa alma ou vida. 


Animismo, portanto, é o ato de animar o inanimado, dar vida a algo. Na Umbanda, essa palavra serve ainda para animar um ser já animado (vivo), em outras palavras, na incorporação por exemplo, quando um espírito (energia viva) acopla um médium (um ser vivo) e sua alma (energia viva), dizemos que duas almas se unem para formar, animar um terceiro ser em terra: a manifestação de um caboclo, de um marinheiro, de um boiadeiro, de um Orixá e assim por diante.

 

Dizemos então que através do processo de animismo, uma alma se junta a outra no corpo (matéria) do médium para dar vida ao arquétipo dos guias e orixás em terra. 

 

Como isso acontece?


Tudo na vida é energia, as energias se misturam das mais diversas formas possíveis gerando fenômenos positivos e negativos. Quando você se conecta com um guia ou mentor espiritual, seja ele no formato de uma alma ou energia, suas partículas se misturam tornando-se uma terceira, com isso, as mensagens que são passadas do guia para o médium como reflexo dessa união. 


É como se as duas almas trabalhassem juntas para um passe, um ponto riscado, um descarrego, uma limpeza, um conselho e assim por diante. O processo de desenvolvimento mediúnico é individual e o tempo que cada uma vai demandar para poder aprender a trabalhar com o processo de incorporação vai depender de uma série de fatores: tempo de estudo, tempo de prática, forma de pensar, preceitos, adesão aos ritos, banhos e procedimentos dessa jornada e assim por diante.


A incorporação acontece de forma consciente, semi-consciente e em um pequeno percentual hoje em dia, inconsciente. 

 

Por que a incorporação e o processo de animismo são importantes na Umbanda?

 

Vou listar alguns pontos que acredito ser importante para manifestação desse trabalho conjunto:

 

Sabedoria e experiência: O guia traz sabedoria e experiência para a consulta, enquanto você contribui com suas próprias vivências. Digo com frequência no T.U.S. Caboclo Pena Verde e Flecheiro de Aruanda que “o guia bebe o que a matéria tem”, ou ainda, “médium vazio, guia vazio”. O Guia é um ser evoluído, o médium um ser em evolução, porém ambos somam suas experiências no processo de incorporação para promover um atendimento espiritual de qualidade e eficiência.

Mensagens personalizadas: Essa conexão única permite que as mensagens sejam mais personalizadas e direcionadas para as necessidades de cada consulente que cruza o pé do guia. Diferente de uma igreja onde o sermão é coletivo para população em massa, na Umbanda o atendimento é individual e personalizado. Cada guia em terra atenderá um cliente por vez dando-lhe a devida atenção, aplicando a sua escuta ativa e fornecendo orientações para cada situação.

Evolução espiritual: Essa experiência nos ajuda a crescer espiritualmente e a se conectar com algo maior do que nós. Não é um super poder, mas uma dádiva que ao mesmo tempo que aplica a caridade, também serve de instrumento para a melhoria e evolução dos médiuns enquanto seres humanos.

 

Médium despreparado passa na frente do guia

 

O médium, carinhosamente chamado de “burro” pelos guias é uma matéria, um corpo, é como um canal que permite a manifestação dessa conexão. O médium empresta o seu corpo e soma sua alma para dar vida (Animar) ao arquétipo do guia que virá em terra trabalhar.

 

É um trabalho sério, de muita responsabilidade e respeito pelo consulente que ali está e por toda egrégora espiritual, portanto, os médiuns precisam estar preparados, comprometidos e em sintonia com os guias para que a comunicação seja clara e precisa, caso contrário, corre-se o risco do médium “passar na frente”, termo que utilizamos para descrever uma consulta em que as palavras não eram do guia, mas do médium. Diz-se então, que naquela consulta o médium passou na frente do guia.

 

Dicas para melhorar essa conexão

 

Não se preocupe em identificar se é você ou o guia: Nem sempre é fácil saber exatamente o que vem da sua alma e o que vem da alma do guia. O importante é que a mensagem final esteja cumprindo o seu papel de ajudar o próximo e que ela esteja alinhada à ritualística de umbanda.

Confie no processo: A Umbanda é um caminho de aprendizado e evolução. Ninguém nasce pronto, mas é possível melhorar um pouco por dia. Confie no processo e aproveite essa experiência única. Busque dicas e orientações com seus dirigentes espirituais e irmãos mais velhos de incorporação.

Busque conhecimento: Quanto mais você aprender sobre a Umbanda, sobre a doutrina do terreiro que você atua, mais profundo será o seu entendimento e atuação sobre o animismo e a espiritualidade.

 

Para finalizar:

 

O animismo é um fenômeno lindo que acontece na Umbanda e em outras religiões que utilizam da incorporação. É a união de duas almas em busca de um objetivo comum: ajudar pessoas a encontrar o caminho de sua jornada, solução para seus problemas e acalento para seus corações.

 

Lembre-se: A Umbanda é uma religião de amor e respeito. Ao se conectar com os guias, você estará dando um passo importante em direção ao seu crescimento espiritual. Mais importante do que cobrar-se de o guia dar uma ótima consulta é ser exemplo e colocar você mesmo em prática o que seus guias ensinam.

 

Guia bom é o que corrige a própria matéria antes de querer dar palpite na vida alheia.

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