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A DOR DO LUTO, A ELABORAÇÃO DA PARTIDA E A UMBANDA – POR EDUARDO DE OXOSSI

 

 


A dor do luto é uma das experiências mais profundas e transformadoras que um ser humano pode vivenciar e raramente queremos passar por ela, aliás, se pudéssemos, jamais passaríamos pela dor de perder um ente querido, mas isso é maior do que nós, é maior do que nossa pequenice humana.

 

Perder um ente querido é enfrentar uma ruptura profunda e irreparável tomada por um vazio que, muitas vezes, parece insuportável. O luto não é apenas uma resposta emocional, mas também física, psicológica e espiritual, refletindo a intensidade do vínculo que tínhamos com aquele que partiu.

 

Muita gente procura um terreiro quando passa por um processo de luto esperando que o guia espiritual tenha uma resposta do porque “Deus levou aquela pessoa” ou o que podem fazer para cessar a dor que estão sentido pela perda.

 

O processo de luto é singular para cada indivíduo, ou seja, não há uma fórmula mágica, protocolo ou cronograma predefinido para superá-lo. Algumas pessoas encontram conforto no isolamento, outras no conforto social, algumas conseguem passar por esse momento rapidamente, enquanto outras levam anos para se recuperar e voltar a seguir em frente com a sua rotina. O importante é respeitar o próprio ritmo e compreender que sentir dor é parte natural do processo da vida e da nossa condição humana.

 

Não somos donos de ninguém e isso é frustrante. É frustrante e dolorido saber que alguém que amamos vai embora e não há nada que possamos fazer para impedir e pior, que na sequência ainda estaremos sendo afetados pela dor da ausência, da saudade, da tristeza.

 

Elaborar o luto envolve atravessar diversas fases, conhecidas na psicologia como: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Essas fases não ocorrem necessariamente em ordem linear, e podem se repetir em diferentes momentos.

 

A negação, por exemplo, é uma forma de defesa inicial, protegendo a mente da realidade dolorosa. A raiva pode surgir contra si mesmo, contra Deus, ou contra o próprio ente que partiu. A barganha reflete o desejo de reverter a perda, enquanto a depressão traz o peso da ausência. A aceitação, por fim, não significa esquecer ou deixar de sentir saudade, mas sim aprender a conviver com a perda, neste caso, dizemos então que a pessoa “elaborou” o luto, sendo o “elaborar” muito particular a forma que o repertório de cada um vai conseguir lidar com aquela situação.

 

Uma maneira saudável de lidar com o luto é encontrar espaços para expressar os sentimentos. Conversar com amigos, familiares ou buscar apoio em grupos de luto pode aliviar a sensação de isolamento, neste sentido, a escuta dos guias durante as consultas acaba tendo um papel terapêutico nesse processo. A espiritualidade também desempenha um papel importante para muitas pessoas, proporcionando conforto e esperança de reencontro em outros planos, realidades, vidas e dimensões.

 

Ritualizar a despedida, seja por meio de cerimônias religiosas, encaminhamento da alma, cartas ou homenagens, também contribui para elaborar a perda. Esses rituais ajudam a simbolizar a transição de quem partiu e a manter viva a memória do ente querido. Os rituais de despedida também confortam o coração daqueles que sentem que deveriam e podiam ter feito mais pela pessoa que partiu. Por outro lado, há também aquelas pessoas que não vão querer tais rituais pois para elas, a despedida desperta ainda mais dor. Até nesse momento delicado da partida não há uma receita mágica de lidarmos com a situação.  

 

Com o tempo, o luto se transforma, se transmuta assim como um milho que vira pipoca. A dor aguda dá lugar à saudade serena, e o amor permanece como um laço indissolúvel e pode chegar até a esfera de motivação, propósito e significância das coisas.

 

O fato é que mesmo sem um protocolo padrão, cuidar de si mesmo, praticar o autoacolhimento e buscar apoio são passos fundamentais para atravessar essa jornada e encontrar novos significados para a vida e a Umbanda atua como um grupo, uma comunidade, um espaço aberto para esse acolhimento tal como para muitas outras dores que estão consumindo os seres humanos em diferentes momentos de suas vidas.

 

Mais do que a resposta de “por que Deus levou fulano” o atendimento do consulente que passa por um processo de luto é um tratamento delicado que exige muita empatia, consideração, respeito, acolhimento, ausência de julgamentos e uma elevação espiritual elevada ao ponto de poder lidar com o sofrimento do outro nessa magnitude.

 

Na Umbanda a linha das almas, ou linha de pretos velhos, é a linha responsável por ajudar e apoiar nestes assuntos. São os pretos velhos em sua sabedoria plena e arquétipo acolhedor que vão tratar cada caso, cada passagem, cada encaminhamento, cada lágrima e cada cicatrização dessa dor que atravessa a alma inclusive de quem fica.

 

Nós umbandistas vamos estudar a vida toda e mesmo assim ainda vamos sair dela sem saber tudo o que poderíamos saber sobre a vida, a morte e o rito de passagem. Mas uma coisa sabemos: a morte vem para todos e quando ela cruzar nosso caminho, essa lição é aprendida individualmente e por mais difícil que seja essa prova, não nos faltará o abraço fraterno de um preto velho.

 

Adorei as almas!

Pai Eduardo de Oxossi.  

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