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EXU MIRIM: BREVES E RECENTES CONSIDERAÇÕES DA LINHA


Poucos Terreiros em São Paulo (SP) atuam com Exu Mirim. Seja pela falta de conhecimento sobre esta linha de Umbanda que está classificada dentro das giras de “Esquerda” ou por motivos particulares dos seus dirigentes.



Durante muito tempo acreditou-se que “Exu Mirim” seriam crianças rebeldes que desencarnaram tendo atuado com drogas, criminalidade ou foram meramente crianças muito travessas. Recentemente a comunidade acadêmica que estuda, discute e dialoga sobre Umbanda levantou a hipótese de Exu Mirim não ser uma criança, pois como poderiam seres inocentes e de luz se tornarem guias de esquerda por suas travessuras ou vida sofrida que supostamente lhe foram dadas ou impostas por adultos cuidadores sem prévia escolha ou sem que antes pudessem atingir a vida adulta para poderem se defender?

Esta mesma linha que crítica a linha de Exu Mirim como crianças, defende que tais mirins seriam na verdade adultos anões que devido à falta de conhecimento histórico e cultural da época foram confundidos com crianças que não cresciam, crianças amaldiçoadas por deus ou sobre obra do demônio.

Tal pensamento herdado pela época medieval vem de muitos anos atrás. Na Grécia antiga, por exemplo, algumas cidades matavam bebês quando identificados com alguma deficiência, pois representavam mau presságio e / ou fraqueza para seus exércitos. Crianças mortas sem se quer terem tido o direito de viver, desenvolver-se e agirem pelo mundo. Este levantamento recente não se dá ao acaso, pois deve ter sim algum anão na linha de esquerda que é confundido com criança, tal como há crianças pelas ruas que confundimos com adultos sejam pelo seu tamanho, aparência física, forma de falar ou de agir.

Uma coisa é certa, sejam crianças ou adultos, receberam este nome, pois são ou foram de estatura menor. Dizer se foram anões ou crianças, dizer por que foram designados a linha de esquerda e não de direita, dizer sua história, seus mistérios, suas mirongas, somente o guia em terra em uma sólida relação com o seu médium pode trazer a sua versão. Sabemos que "Exu" de modo geral é caminho, sendo a esquerda a linha que convive mais próximo dos humanos.



Além destes pensamentos, já se cogitou no meio acadêmico que Exu Mirim seria "filho de Exu com Pomba Gira". Não necessariamente! Pode ser que tenha um ou outro com esta história e permissão de Oxalá de atuarem na esquerda como uma família, família que foram em terra ou em vida, porém quando falamos em "Guias" falamos em espíritos livre de coisas terrenas, como por exemplo, o sexo. Quando se diz "Yansã é mulher de Xango", não se referimos a isso como um guia que está lá se deitando com outro. 

Os Evangélicos costumam dizer que a igreja é a "Noiva de Cristo" e ao se referirem a isso não estão falando de uma relação carnal de sexo, mas conjugal, espiritual. Quando dizemos que pomba - gira tem sete maridos, não estamos dizendo que ela é uma prostituta ou não honra o matrimônio. Estamos dizendo que ela tem grau evolutivo para trabalhar em sete linhas. Podemos ter uma pomba - gira que no passado foi prostituta, mas não é possível generalizar e cristalizar isso como verdade absoluta.

Voltemos à Exu Mirim. Seja anão, criança, filho de Exu ou não, estamos falando de uma linha que atua com o pólo negativo mirim. O que não significa que eles atendam apenas crianças. Trata-se de uma linha que traz a inocência de um Mirim ao Vazio de uma esquerda. Vazio no sentido de atemporal, de não tomar partido, de não julgar e de tudo mais que representa o trabalho da esquerda. 



Para ilustrar este debate, contaremos à seguir a história do Exu Mirim Estradinha que atua com a médium Fabiana (T.U.S. Caboclo Pena Verde e Flecheiro de Aruanda - SP) e do Exu Mirim Brazinha que atua com o médium Eduardo neste mesmo terreiro.

É importante lembrar que mesmo se dando o nome “Estradinha ou Brazinha”, estamos remetendo à uma imensa falange, devem haver vários Estradinhas e Brazinhas por aí e com histórias semelhantes, pois embora eles tenham sido designados a esta missão, sua história de vida encarnada, de vida passada é muito peculiar a ele. Nem gêmeos idênticos tem comportamentos 100% iguais. História comportamental é como digital, cada um tem a sua e não existe duas 100% iguais.

EXU MIRIM ESTRADINHA – Por Fabiana de Yemanjá

Embora no terreiro que eu atue não atuemos com a linha de Exu Mirim em passe, eles são respeitados e cuidados como qualquer outro guia, todavia, cuidar do guia é a responsabilidade do médium, desta forma, uns cuidam mais e outros menos, mas não é isso que queremos discutir neste texto. O “Estradinha”, exu mirim que atua comigo me permitiu contar que ele é um espirito desencarnado no qual em vida foi rejeitado pelos pais, esta situação fazia com que passasse fome e sofresse por violência dentro de sua própria casa.

Em dado momento exposto a estas situações, não aguentando mais, optou por sair de casa sem saber para onde iria. Pôs-se a caminhar pelas estradas de terra do local onde morava até que conheceu o perigo das ruas. Conheceu o que era o errado e fez parte do errado para poder sobreviver. A exposição a este outro tipo de vida e violência, só que desta vez por escolha de suas atitudes ocasionou a sua morte. Como foi exatamente que ele morreu ele não deu permissão de falar, até por que, não gosta de falar desta parte. Deseja cumprir sua missão e reparar o que precisa ser reparado.

Depois de um tempo desencarnado ganhando atendimento necessário no plano espiritual teve a sua evolução o que resultou na permissão de vir trabalhar na linha dos exus, porém, na hierarquia “Exu Mirim”. Seu nome “Exu Mirim Estradinha” está associado às estradas que ele percorreu, associado à terra onde ele viveu, associado ao ponto de força que tem grande atuação espiritual ligado à Obá (Orixá da Terra), Abaluaê (Por perambular pelas ruas, passar fome e conviver com as próprias doenças) e a Ogum (Estradas e Caminhos).

Entre a ajuda que presta em seus trabalhos, destaca-se a intervenção contra violência em geral, porém com grande ênfase contra violência dirigida à crianças e famílias. Ajuda pessoas com problema de vícios e abrindo os caminhos de pessoas que estão andando, andando e parecem estar no mesmo lugar.

Aprecia como bebida o marafo (pinga) com mel. Sua comida preferida é o Cará cozido com pimenta, fuma cigarro e sua vela é a bicolor vermelha com preta. Laroyê Estradinha! Percorra os nossos lares anulando violência, fome e as traças espirituais que corrompem os lares.

EXU MIRIM BRAZINHA – por Eduardo de Oxossi

O Brazinha com o qual tive o privilégio de ser meu guia e mentor na linha de Exu Mirim me permitiu dizer que em vida foi uma criança muito travessa que adorava brincar com fogo. Tudo que envolvesse braza lhe atraia: cigarros, lareira, tochas, etc. Teve bons pais, uma boa educação, morou em uma casa grande, sempre rodeado de serviçais, comeu e bebeu do bom e do melhor. Suas travessuras sempre desagradavam seus pais e muitas vezes humilhavam os escravos e funcionários da fazenda onde morou. As coisas erradas que fez não pôde justificar como “falta de educação ou criação de pai e mãe”. Desde que fumou o primeiro cigarro, sabia que aquilo não era para crianças, mesmo assim o fez!

Agitado por natureza, odiava ouvir sermões ou conversas chatas, prolixas e repetitivas. Certa vez, quando todos dormiam, ele foi brincar com fogo e acabou incendiando a casa e a fazenda. Pelo fato da casa ser localizada em um canavial e a senzala viver trancada pelo seu pai durante a noite, ele acabou matando a todos que ali residiam, inclusive a si mesmo e a seus pais.

Ao chegar no plano espiritual, sem entender o que aconteceu, vagou com seus familiares e serviçais até receberem o devido direcionamento.  Quando ganhou permissão para prestar a caridade e corrigir os erros daquela e de outras vidas, veio nesta geração na linha de Exu Mirim Brazinha.


Por morar a sua curta vida em um canavial e por gostar muito de fogo sua força vem de Yansã (“Dona do Fogo, do Corisco e do Trovão”) e de Xangô (Fogo, Trovão). Por ter vivido uma vida farta aprecia doces como goiabada, mel, caldo de cana, melado, canela, etc. Fuma cigarro e sua vela é a bicolor branca e vermelha e a bicolor vermelha e amarela. Entre os trabalhos voltados à caridade destacam-se trabalhos de abertura de caminhos, fartura, transformação (pois assim como o fogo transforma as coisas, ele usa esta energia como mistério de atuação), acalmar crianças levadas, recuperar crianças e adolescentes desviados e/ou que dão as costas ao ensinamento dos seus pais e /ou que assim como ele não gostam de ouvir sermões, livrar pessoas que são humilhadas por lideranças, pessoas e/ou empresas que prestam serviço, trabalhos ligados a relações mais justas, afastamento de amizades de má índole, equilíbrio e mudanças de pensamentos. 

CONCLUSÃO

Invista tempo conhecendo os seus guias, sua história, seus mistérios, sua força! Mais do que um visitante no seu corpo, ele é seu amigo, seu companheiro (a) de vida e evolução. Umbanda não se trata de algo mecânico no qual um vem dá o passe e vai embora. Estamos interligados com os guias pois ambos estamos em desenvolvimento. Nós em desenvolvimento terrestre e eles concluindo a missão espiritual (pois já viveram em terra). 

Não estamos interligados à toa. Às vezes o médium passa anos com determinado guia e esquece de vê-lo como um amigo, lembra apenas de chamá-lo quando precisa de sua atuação. Experimente tratar seus guias como um amigo, como parte de você! Você pode se surpreender positivamente com a mudança na sua vida. Axé!

Comentários

  1. Muito interessante a explicação e principalmente as história dos dois Exus Mirins citados no texto.....

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  2. Sim, para ilustrar que toda história de um determinado guia passa por uma discussão acadêmica, teológica e doutrinária da linha, mas também não se pode desconsiderar o que o próprio guia traz de ensinamento sobre ele. Mesmo que ele dê o nome e sua história, ela é muito peculiar a ele, não traduzindo necessariamente a falange como um todo. Axé!

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  3. Amei a explicação ,tenho o privilégio de ser médio do Exu Mirim estradinha

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  4. Cheguei a conclusão de que as entidades que carregam o nome Brasinha foram crianças que morreram em incêndios, criminosos ou acidentais, Meu pai trabalha com um Brasinha que conta ter sido morto por policiais que após prende-lo o incendiaram no ano de 1910. Achei muito interessante as estórias desses espíritos que mesmo sendo de temos é classes sociais diferentes sempre tem o mesmo desfecho. Larue todos os Brasinhas!

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