Por: Eduardo de Oxossi – T.U.S. Caboclo Pena Verde e Flecheiro de Aruanda Como sacerdote de Umbanda, minha missão é estudar, manter, propagar e apoiar tudo que o ambiente sagrado necessitar, mas acima de tudo, manter a Caridade, o Amor e a busca pela coerência com a energia Divina dos nossos sagrados Orixás e aquilo que eu acredito sobre eles. Por isso, considero essencial olharmos nos dias de hoje para um tema que, embora gere tabu em muitas esferas humanas conservadoras, deve ser abordado com a leveza da alma e a profundidade da nossa ancestralidade: a homossexualidade no contexto das religiões de matriz africana . Nossa Umbanda é um reflexo do Brasil e suas misturas , uma fé que acolhe e transforma, une ao invés de separar. No entanto, para entender algumas resistências que ainda persistem, precisamos ir à fonte: a cultura Yorùbá tradicional, que é a base da nossa matriz. É lá, na África milenar, que encontramos a forte ênfase na ideia de que ...
1. A Presença da Cabeça de Cera nas Religiões de Matrizes Africanas A cabeça, denominada Ori em Yorubá, é, sem dúvida, o ponto mais sagrado e vital do corpo humano nas religiões de matriz africana, sendo o centro da individualidade, do destino e do contato direto com o divino. É o receptáculo de Aiyê, a Terra, e o elo com Orun, o Céu, onde Olodumare (Deus Supremo) implanta o nosso Odu (caminho/destino) e a nossa personalidade única. Desta forma, o uso de representações da cabeça, como as de cera, é uma forma de manipulação ritualística focada diretamente na essência do ser e em seu caminho espiritual, potencializando qualquer trabalho mágico. É no Ori que reside o Orixá de Cabeça, o "Dono da Coroa", aquele que rege a vida, o temperamento e o destino do indivíduo, além dos Orixás adjuntos e ancestrais que compõem a coroa espiritual de cada um. Este entendimento sacraliza qualquer objeto que represente a cabeça, transformando a simples cera em um poderoso instrumento de ...