A Sexta-feira Santa é um dia de profundo silêncio e respeito para as religiões cristãs. No calendário católico, marca o momento em que o Mestre Jesus — símbolo maior de amor, naquela época e dentro daquela cultura — foi sacrificado na cruz. Esse momento é conhecido como a Paixão de Cristo e abre as portas para o ciclo de morte e renascimento, que se completa no Domingo de Páscoa.
Dentro da tradição católica, esse período é vivido com
penitência, jejum e oração. A Eucaristia — o pão e o vinho partilhados —
remonta à ceia de Pessach, a Páscoa judaica, quando Jesus se reúne com seus
apóstolos antes de ser entregue, julgado e crucificado. É um rito que fala de
união, partilha, corpo e espírito.
E como isso ecoa dentro dos terreiros de Umbanda?
A Umbanda é uma religião 100% brasileira, nascida do
cruzamento sagrado entre influências das religiões de matrizes africanas, do
catolicismo, do espiritismo, das tradições dos povos originários, da Jurema,
entre outras. Essa diversidade reverbera até hoje e dá origem às muitas formas
de vivenciar a religião: Umbanda Sagrada, Umbanda Branca, Umbandomblé, Umbanda
Omoloko, Umbandaime, Umbanda Iniciática, entre outras.
Essa variedade de caminhos e possibilidades de culto ao
sagrado fez com que muitos fundamentos se misturassem em um só corpo
espiritual: a Umbanda. E é aí que entra não apenas o sincretismo religioso, mas
também as heranças, influências e dogmas de outros sagrados que ajudaram na
formação da Umbanda.
A energia da Sexta-feira Santa, por exemplo, carrega um
mistério profundo. É dia de luto, de recolhimento, de vibração pesada. Há quem
diga que os caminhos se abrem para más influências: kiumbas, eguns, magias
invertidas, trabalhos de demanda, portais negativos, energias de conflito uma
vez que se celebra a morte de Cristo. É como se o mal se aproveitasse de um
momento sombrio para intensificar suas ações sobre a terra.
Essa teoria se confirma nas escritas sagradas do Cristianismo
(Bíblia) como podemos observar no Evangelho de Mateus (27:45): “desde a hora
sexta até a hora nona houve trevas sobre toda a terra.” Isso é um chamado à
vigilância espiritual de seus fiéis.
Por essa razão, muitos zeladores e mães/pais de santo evitam
giras ou consultas nesse dia. Uns por medo ou desinformação, outros por
respeito e afinidade com o simbolismo da data e o quanto ela está presente na
influência do seu terreiro. Hoje, porém, já se compreende que a Umbanda é uma
religião independente e autônoma, ou seja, ela não precisa se submeter a
conceitos de outras tradições (Sem o Candomblé ou o Catolicismo, por exemplo),
mas sim estruturar sua própria visão de mundo sobre os fenômenos espirituais com
os quais lida no seus ritos — mesmo quando esses fenômenos são atravessados por
elementos de outras religiões, que muitas vezes podem até ser antagônicos entre
si.
O que parece ser um ponto comum dentro da Umbanda é o
entendimento de que essa data pede atenção. É tempo de firmar vela, fortalecer
a fé, limpar o coração e agir com cautela. Afinal, se quem busca fazer o mal
entende, espera, acredita que essa é uma data cabalística para seus feitiços de
destruição. Agora, eu pergunto-lhes, por que o bem não se prepararia também
para proteger, fortalecer e sustentar o axé sabendo que o mal estará levantando
suas armas?
Independentemente de como sua casa se relaciona com a
Sexta-feira Santa, o que precisamos é de respeito aos colegas e como se
relacionam com ela.
Desejo que cada um saiba ouvir o silêncio do mundo
espiritual presente nessa data e compreenda que antes da luz da ressurreição, também
houve a escuridão do calvário. E é importante lembrar que nos dias mais
sombrios foi também onde a fé verdadeira se forjou, onde a força se ergueu e
onde se reafirmou que o sagrado é maior que a carne, maior que o olhar e maior
que qualquer escuridão.
Essa leitura de fenômeno não é diferente das outras religiões. Luz e trevas andam lado a lado e uma não existe sem a outra. Sempre que tivemos um período de Luz, ele esteve relacionado a um período de obstáculos. É como se a paz e o caos dividissem o mundo em um grande caldeirão com todos nós lá dentro.
Saravá Oxalá, salve nosso mestre Jesus Cristo, saravá todos
os guias de luz!
Axé!
Pai Eduardo de Oxossi
Comentários
Postar um comentário