Estas fotos são dos trabalhos e oferendas para Yemanjá do T.U.S. Caboclo Pena Verde e Flecheiro de Aruanda (SP).
Por: Eduardo de Oxossi
INTRODUÇÃO
É comum em nossa religião a prática de rituais espirituais nos pontos de força (cachoeira, mata, mar, cemitério, etc). No nosso terreiro (T.U.S. Caboclo Pena Verde e Flecheiro de Aruanda) desde 2015 que os trabalhos de oferendas da casa não são feitos mais no mar. Ele continua sendo feito em alguma cidade praiana, pois ali é a terra e ponto de força de Yemanjá, mas fazemos ele na casa (uma casa grande no qual caibam os médiuns e consulentes) e posteriormente seguimos com a gira (e esta continua nas tendas nas areias da praia).
Por mais que a nossa intenção de fazer oferenda no mar seja boa e assim aprendemos de geração a geração, sabemos hoje que o impacto da alfazema, das garrafas, das velas, dos espelhos, dos pentes no mar são prejudiciais a natureza e a vida marinha, além de passar ao leigo, ao não praticante da religião uma péssima imagem do Umbandista, daquele que diz respeitar e defender a natureza.
Longe da gente querer mudar ou ensinar as casas ou ainda, interferir em sua doutrina. Neste texto, pai Eduardo de Oxossi relata como tem sido feito as entregas de Yemanjá neste terreiro. Neste modelo, fazemos o Amaci na casa, todos vestem seu branco, defumamos o ambiente e iniciam os preparativos da entrega. Pontos são cantados para ajudar os médiuns a entrarem em conexão com o que estão fazendo ali.
Os dirigentes passam explicação e fundamentação das entregas, explicam o que está sendo feito e ali as pessoas já ganham aprendizado sobre os ritos que estão praticando. No caso de Yemanjá, optamos por usar: manjar branco, canjica, arroz doce, crisântemo branco, rosa branca, alfazema, champanhe branca, velas em tons de azul claro e branco, espelho, quartinha, pente, pera, etc.
A sua casa pode e deve continuar usando os ingredientes que estão acostumados a entregar a Yemanjá, desde que seja com consciência, pois se destruirmos o meio ambiente, não teremos mais o ponto de força para trabalhar.
Nesta estrela, foi riscado no chão com pemba branca e azul, pois no tipo de "Umbanda Sagrada", a magia de pemba e a conjuração de símbolos é tão importante quanto qualquer outro item.
O próprio barquinho de isopor para que não abre mão dele, pode tê-lo aqui, pois quando a entrega termina você consegue descartá-lo em local apropriado para reciclagem, mas se jogar no mar, não há como controlar para onde ele vai. Apenas por curiosidade, o isopor pode demorar 150 anos para desaparecer sozinho da natureza...
Em algumas cidades já encontramos barquinhos feito com base de farinha que quando desintegrado serve de alimento aos peixes, enfim, são assuntos para refletirmos, pois sendo Umbandistas, temos que pensar na natureza ao mesmo tempo que continuamos a cuidar do nosso sagrado.
Uma entrega desta pela casa já evita que cada um dos seus 40 médiuns entreguem barquinhos isolados. Em algumas casas, as entregas são servidas de alimentação aos próprios médiuns depois que rezadas ao Orixá (tal como em Candomblés).
Neste calhamaço de velas com fitas, fizemos uma firmeza representando o terreiro para que mamãe Yemanjá esteja sempre presente nos trabalhos da casa.
Cada médium da corrente firmou suas velas na mandala mentalizando e fazendo seus pedidos a Yemanjá. Cada um deles colocou uma rosa branca na entrega. Depois todos rezaram e cantaram pontos.
Quando acaba a entrega, partimos para as tendas nas areias onde foram trabalhados Marinheiros, Ogum e Exu (a linha que a sua casa se sentir a vontade). No outro dia é possível fazer a coleta seletiva e descarte adequado: o que é vidro, o que é lixo, etc. É possível fazer mais? Sim, cada casa deve repensar em suas práticas e a troca de experiência com a comunidade religiosa vai construindo novos hábitos.
O pai de santo, o sacerdote, o zelador, enfim, é uma pessoa formadora de opinião pois seus médiuns tenderão a seguir seus passos, portanto, cada dirigente espiritual deve fazer exercícios reflexivos constantes não apenas para ensinar fundamentos para seus filhos, mas para ensiná-los a serem pessoas melhores para si, para o outro, para a natureza e para sociedade.
Quando estas velas apagam você tem várias possibilidades: Os itens físicos (espelho, quartinha, etc) podem ir de firmeza para o terreiro. As velas vão queimar, portanto, precisam ser despachadas. A comida de santo como acontece em muita casa de Candomblé, pode ser comida pelos filhos dando-lhes o asé daquele ritual em seu corpo. As flores servem para banho ou podem ser descartadas em mata onde tendem a virar adubo e assim por diante.
Um Umbandista se diz de boca cheia um cultivador das forças da natureza, mas será que ele sabe cuidar dela? Será que ele sabe o impacto que seus rituais tem nas outras vidas presentes ali? Para ganhar o respeito da sociedade não precisamos mudar radicalmente nossos fundamentos, mas podemos mostrar a sociedade que o Umbandista prega pela evolução, a começar pela sua.
Ase!
Concordo plenamente, sou super a favor de que as oferendas sejam feitas conscientemente sem prejudicar a natureza, que na minha concepção é a presença viva do Orixá.
ResponderExcluirPerfeito
ResponderExcluir