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NOVOS FILHOS DE SANTO

  


É lindo quando vemos um terreiro tradicional com 20, 30, 50, 80 anos de casa aberta, isso mostra a força de como uma geração transmite a outra a continuidade de um legado. Mas será que todos ali estão desde o começo da casa? É sobre isso que vamos falar!

O Terreiro é uma organização sem fins lucrativos que embora esteja ali para prestar a sua caridade, ajudar as pessoas e evoluírem espiritualmente, possui também responsabilidades administrativas (Contas à pagar, documentação em federação, responsabilidade social, cuidados para com a sua imagem, relacionamento com o bairro, etc).

Quando a gestão se perde ou um dirigente falece e não tem ninguém para substituí-lo, ou por outros motivos que sejam a casa tristemente fecham encerrando aquela bela missão que tinham ao abri-la, estes médiuns que ali atuavam também precisam procurar outras casas para continuar trabalhando.

Por outro lado, quando um terreiro enfrenta ano a ano os desafios que lhe cruzam (Financeiros, demandas, ingratidões, intolerância religiosa, correção dos seus erros, aprendizado das situações, entre outros) ele vai saindo "vitorioso" quando comparado com anos anteriores, ou seja, ele vai construindo essa jornada duradoura que resiste década a década fortalecendo suas raízes (não isenta de erros, mas rica de aprendizado).

Nessa jornada muitos filhos novos chegam e alguns filhos se vão. É como qualquer outra quebra das relações humanas (mudança de emprego, um filho que deixa a casa dos pais, mudança de um vizinho que gostávamos, o divórcio de uma esposa, alguém que desencarnou  e assim por diante).

Sobre estes filhos que se vão, as vezes vão por motivos negativos: por deixarem a religião ("não sou mais Umbandista e agora essa religião é do diabo"), seja por brigas com os irmãos/dirigentes, por fofocas, por falta de respeito, por imaturidade, por desrespeito as regras da casa, comportamentos inadequados (já vi casos até casos em que o marido separa da esposa e um dos dois sai da casa por não conseguir conviver com o ex no terreiro).

Outros se vão por motivos positivos: recebem a missão de abrir suas casas, mudam de cidade / bairro por concretizarem seus sonhos de casa própria (aquele terreiro começa a ficar distante para encaixar na agenda de responsabilidades), outros pedem tempo porque entraram na faculdade e não podem mais vir as giras, etc.

Ninguém e nenhum local é insubstituível! Pois tal como uma médium pode escolher um outro terreiro para trabalhar (mais aderente ao que ele acredita ou ainda abrir a sua própria casa), chegam também novos filhos de santo aos terreiros para ajudar cada um no cumprimento da sua missão que vai se construindo ano a ano e cada vez mais forte.

Não quer dizer que um determinado terreiro ou determinado médium seja mais certo com isso ou com aquilo, pois assim como existem as várias vertentes de Umbanda, as várias formas e personalidade dos dirigentes, várias personalidades dos médiuns, existe a verdade de cada um.

No T.U.S. Caboclo pena Verde e Flecheiro de Aruanda, sempre ouvimos dos guias frases recorrentes que fazem todo sentido na espiritualidade, seja para quem fica nos terreiros ou para quem se vai:

1)      “Sempre está quem tem que estar” – Exu Tranca Rua das Almas (Pai Eduardo): Isso quer dizer que em cada corrente, em cada terreiro, em cada trabalho está presente quem precisa. As vezes esta presença é temporária pois a casa já cumpriu a missão com determinados frequentadores e vice versa. Seria muito bonito poder dizer que de 50 anos de terreiro estou a 20 anos, mas hoje em dia as coisas não são assim. As pessoas mudam seus gostos, seus interesses, seus valores e com isso desafinam a relação de médium x terreiro. Embora não seja um bom sinal a rotatividade de casas (por parte dos médiuns) e de médiuns (por parte das casas), essa mudança natural do trono da fé traz oxigenação para ambos! As relações estão mais instáveis, no casamento, por exemplo, a frase “até que a morte nos separe” não se aplica mais, pois nem dá tempo da morte chegar, as pessoas pulam de casamento em casamento. Antigamente nossos avôs ficam em uma empresa até aposentar, hoje as pessoas pulam de empresa em empresa, de escola em escola e não está diferente com igrejas, terreiros e tudo na vida.  Toda relação está instável, dá um cinco minutos e fim, aquelas pessoas que diziam te amar passam a agir como se tudo não passasse de palavras vazias. Promessas feitas começam a ser quebradas e a espiritualidade na sua sabedoria põe cada um para seguir seus novos caminhos.

2)      “Pessoas se juntam pela sua energia” – Exu Tranca Rua das Almas (Pai Eduardo): Ou seja, se você tem guias mais ligados ao candomblé ou umbanda traçada, dificilmente se sentirá bem em uma casa de Umbanda Branca ou vice versa. O pior erro de um médium é achar que a casa vai mudar toda sua doutrina porque ele pensa dessa ou daquela forma. A casa é regida pelos guias chefes e seus dirigentes, estes não estão ali para agradar a todos, mas para tentar de uma forma coerente cumprir bons modelos do caminho evolutivo. De igual forma um dirigente não pode achar que vai mudar as pessoas para o que ele imagina ser certo. Só mudamos aquele que quer ser mudado, o que se permite ser mudado e que compactua com aquela energia.

3)      “Nem tudo são Flores” – Exu Sete Encruzilhada (Mãe Fabiana):  Não devemos subir muito as expectativas do novo terreiro que estamos indo e nem dos novos filhos e irmãos de santo que vamos ganhar, pois a frustração humana é resultado de achar que tudo é resumido em flores e perfumes. As pessoas (Sejam médiuns ou dirigentes) não sabem lhe dar com os espinhos. Uns não querem, uns são os próprios espinhos, uns só querem ver os espinhos do outro e outros são cegos para os seus espinhos.

4)      “Nenhuma folha cai da árvore sem a vontade de pai Oxalá” – Caboclo Flecheiro (Pai Eduardo): O novo filho de santo é como um novo aluno na sala, um novo colaborador no seu primeiro dia de trabalho, ou seja, precisa ser acolhido, ele tem algo a contribuir com o terreiro e vice versa. Há de se agradecer que nossos caminhos se cruzaram, pois assim é a vontade de Oxalá. Desde a sua maior decepção com o outro até aquele irmão que você tem mais afinidade. Tudo está acontecendo para algum aprendizado, para alguma finalidade, mesmo que talvez somente entendamos isso lá na frente.

Se você é novo filho de santo, aproveite cada dia na sua nova casa, dando o seu melhor ao sagrado. Se você é dirigente espiritual, acolha estes filhos com o seu amor! Independente de quando essa relação durar, terá se cumprido o que cada um tinha a oferecer a vida um do outro. Quem não sabe lhe dar com os seus términos de ciclo, tenderão a passar por histórias repetias até que aprendam a lição.

Não tem nada de ruim em mudar de terreiro ou de médiuns, o que tem de ruim é insistir em uma relação tóxica onde as partes se machucam ao invés de irem rezar para o Orixá.   

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