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OGUM X NANÃ: "A LAMA DO PÂNTANO X A FORÇA DO AÇO!"



O QUE SÃO LENDAS?

Lendas são contos passados pelos nossos antepassados a seus filhos fazendo com que histórias sejam mantidas vivas de geração em geração, de povo em povo, de cultura em cultura. Existe uma certa dificuldade científica em identificar suas verdades, origens e fatos concretos em função da falta de ferramentas, tecnologias e recursos da época.

O QUE SÃO LENDAS DE ORIXÁS?

As lendas de Orixás contam a história destes seres antes, durante e depois de virarem seres sagrados. Algumas contam suas experiências na terra, outros suas experiências sobrenaturais e assim por diante. As lendas dos Orixás podem ou não dar fundamento e doutrina a uma determinada casa de Umbanda ou de Candomblé.

Cada casa tem a sua doutrina, desta forma, sempre indicamos que quando o assunto for “doutrina”, você sempre procure a casa que frequenta ou o pai de santo de sua confiança.

POR QUE CONTAM QUE NANÃ É QUIZILADA COM O FERRO DE OGUM?

No inicio dos tempos a terra era dominada por pântanos, rios e lagos que cobriam quase todo o planeta. Estes territórios faziam parte do reino de Nanã Buruquê e ela tomava conta de tudo como boa soberana que era. Foi ela quem concedeu a argila para que Oxalá (Uma das manifestações de Deus, no sincretismo, nosso pai Jesus Cristo) criasse os homens na terra.

Quando todos os reinos foram divididos por Olorun (Deus) e entregues aos orixás uns passaram a entrar nos domínios dos outros (água tomando a terra, vento tomando as montanhas, matas tomando a terra, água tomando as matas, etc) e muitas discórdias passaram a ocorrer.

E foi dessa época que surgiu uma das lendas sobre Ogum e Nanã.  Ogum precisava chegar ao outro lado de um grande pântano, lá havia uma séria confusão ocorrendo e sua presença era solicitada com urgência, afinal sendo ele um cavaleiro de batalha, precisava averiguar o que acontecia.

Neste dia, ele resolveu atravessar o pântano  para resolver isso. Ao começar a travessia que seria longa e penosa ouviu atrás de si uma voz autoritária:

 - Volte já para o seu caminho rapaz!

 Era Nanã com sua majestosa figura matriarcal que não admitia contrariedades.

 - Para passar por aqui tem que pedir licença!

 - Como pedir licença? Sou um guerreiro, preciso chegar ao outro lado com urgência. Há um povo inteiro que precisa de mim.

-Não me interessa o que você é e sua urgência não me diz respeito. Ou pede licença ou não passa. Aprenda a ter consciência do que é respeito ao alheio.

Ogum riu com escárnio:

- O que uma velha pode fazer contra alguém jovem e forte como eu? Irei passar e nada me impedirá!

Nanã imediatamente deu ordem para que a lama tragasse Ogum para impedir seu avanço. No barro agitou-se e de repente começou a se transformar em grande redemoinho de água e lama. Ogum teve muita dificuldade para se livrar da força imensa que o sugava.

Todos seus músculos retesavam-se com a violência do embate. Foram longos minutos de uma luta sufocante. Conseguiu sair, no entanto, não conseguiu avançar e sim voltar para a margem.

De lá gritou:

 -Velha feiticeira, você é forte não nego, porém também tenho poderes. Encherei esse barro que chamas de reino com metais pontiagudos e nem você conseguirá atravessa-lo sem que suas carnes sejam totalmente dilaceradas. E assim fez. O enorme pântano transformou-se em uma floresta de facas e espadas que não permitiriam a passagem de mais ninguém.


Desse dia em diante Nanã aboliu de suas terras o uso de metais de qualquer espécie. Ficou furiosa por perder parte de seu domínio, mas intimamente orgulhava-se de seu trunfo: Ogum não passou!

O QUE ISSO INTERFERE NA PRÁTICA DA RELIGIÃO?

Terreiros que leva esta lenda em consideração não usam nenhum tipo de metal para realizar as entregas e obrigações de Nanã e muito menos argila ou lama para realizar as obrigações de Ogum. Cada casa tem a sua doutrina e não nos cabe dizer qual é a mais certa ou a mais errada.

Já outros terreiros não acreditam que seres de tanta luz possam brigar como entendemos a briga no dicionário. Eles acreditam que estes seres são tão evoluídos não brigariam. Acreditam que estas lendas foram uma forma dos povos antigos contarem o que viam, ou seja, imagine um pântano próximo a uma tribo que no dia seguinte amanheça petrificado por uma geada por exemplo, é muito comum que aquela tribo sem ter conhecimento científico dos fenômenos existentes atribuam que o Deus do Ferro brigou com a Deusa do Lago.   

O fato é que seja Umbanda ou Candomblé, há muito para ser estudado e ao se tornar médium ou interessado no tema, teremos que ler muito sobre teologia, história, geografia, sociologia, etc. A religião não se limita a prática do rito, neste caso, "incorporação".  

Ao estudar as lendas sagradas precisamos dar um contexto histórico para o que acontecia naquela época, quem eram as pessoas, os povos, sobre que condições viviam, o que pensavam, quais eram seus costumes, etc. A ausência de material científico sobre o tema dificulta um estudo mais aprofundado sobre o tema. Quando ele é contado de casa para casa, mudam-se palavras e interpretações, isso contribui para que haja divergências dentro da própria religião. A divergência de opinião é saudável, o que não é saudável é a falta de respeito uns com os outros. Estude, questione, mas debata opiniões de forma saudável. Não usemos o nome dos Orixás e de Deus para promover a intolerância e violência. 

Asé!
Eduardo de Oxossi
Sacerdote de Umbanda
T.U. Pena Verde, Pena Azul e Caboclo Flecheiro de Aruanda
São Paulo 


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