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O CAJADO NA UMBANDA – POR FABIANA DE YEMANJÁ




Cajado é uma espécie de “vara”, artefato de magia e poder em diversos ritos e religiões (não apenas na Umbanda!), se olharmos do dicionário por exemplo: o Cajado está associado a vara de pastor, caracteristicamente tendo a extremidade superior recurvada em forma de gancho ou semicírculo para permitir puxar as pernas dos animais, também associado a 'vara' em geral, principalmente em magia.

Em algumas igrejas é utilizado como símbolo de união de seus membros. Para idosos e deficientes na antiguidade era usado como bengala e apoio. Pelos pastoreios era usado para liderar e organizar as ovelhas (daí o jargão de pastores de igreja evangélica em liderar seu rebanho).

Como boa filha de Yemanjá, sempre curiosa, certo dia indo trabalhar eu vi um senhor usando um cajado na rua. Como isso não é habitual, fiquei encucada com aquilo, fui e perguntei por quer o senhor não usa uma bengala? Ele me disse que para usar a bengala ele tinha que ficar encurvado e com o cajado ele conseguia ficar em pé. Esse discurso me fez lembrar que todo velho sábio, mago ou ancião é dotado de uma sabedoria imensa e de fato o cajado é funcional para manter a coluna em pé para quem tem dificuldade de locomoção (além do seu significado de empoderamento).

Quem usa cajado transpõe certo poder que nem lembramos se a pessoa tem ou não dificuldade de locomoção. No filme senhor dos anéis -as duas torres, tem uma cena que o Mago cinzento e os mocinhos entram no castelo rival e pedem para desarmar todos antes de entrar, o mago pede para ficar com o cajado porque já era velho e não andava sem ele. Pois bem, o mago entrou com o cajado e deu um pau em todo mundo. O Cajado dá mobilidade de magia, de batalha, se estende ao corpo como objeto e acessório bem útil.


FOTO: Mago Cinzento no filme "Senhor dos anéis"


Na Bíblia, quando Moisés estava andando pelo deserto, Deus aparece e pergunta o que ele tem na mão,  Moisés responde  que era uma vara, em seguida Deus pede que ele jogue essa vara no chão. Quando Moisés pegou a vara  novamente Deus o tinha transformado em um cajado, cajado esse que Moisés usou para fazer magia, abriu o mar vermelho e fez águas saírem das rocha. O Cajado na Bíblia é sempre associado a poder, selos do senhor, liderança, invocações e a passagem que eu mais gosto: onde Moisés usa o cajado para liberar o povo do Egito e lança-o no chão até que vira uma cobra e essa cobra cobre as duas cobras dos magos dos faraós demonstrando que a Magia de Deus em Moisés era mais poderosa.


FOTO: Quando Moisés lança seu cajado no chão e ele vira cobra


FOTO: Quando Moisés usa o Cajado para abrir o mar vermelho

Na Umbanda a sua funcionalidade não é diferente. Os cajados sagrados simbolizam a sustentação de algo ou alguém. Um dos principais Símbolos  de OXALÁ é o cajado. Em nosso terreiro  temos o cajado de Obaluae e também o de Omolu,  eles ficam em nosso conga nos dando a firmeza e proteção, quando Obaluae e Omolu vem em terra eles seguram os cajados em suas mãos, dançam com eles  e nesses momentos eles cortam tudo o que há de negativo no terreiro e nas pessoas.


FOTO: Oxalá com seu Cajado (No Candomblé é chamado
 de Opaxoro na figura de Oxalufã)


O Cajado de Obaluae foi confeccionado com palha e elementos voltados a cura. Já o Cajado de Omolu foi confeccionado com Cabaças e elementos ligados a morte e término de ciclo. Outras linhas de trabalho que é comum vermos a presença de cajados fazendo o papel de bengala ou de instrumento de magias são: a linha de Pretos Velhos,  alguns exus (Principalmente denominados “Tatas”), pombogiras velhas e ligadas a bruxaria e assim por diante.



                                                FOTO: Ilustrativa de cajado de Exu 



FOTO: Ilustrativa de cajado de Exu 


Vocês podem ter certeza que por de trás de cada cajado (Bíblia, Igreja, Umbanda, Candomblé, Bruxaria) há um mistério que o mago / guia usa pra trabalhar! Um cajado na Umbanda não é apenas enfeite ou apoio. Quando vocês verem algum guia batendo o cajado  no chão ali ele está trabalhando: abrindo e fechando portais, espantando energias, ampliando a campos de força, etc. Tal como um guia que bate o pé ou a mão no chão, ou um punhal e assim por diante.

Eu trabalho com a pombogira a Maria Mulambo que vem totalmente na linha da Bruxaria e usa um cajado.  Certo dia, estávamos fazendo o trabalho anual da calunga no T.U.S. Caboclo Pena Verde e Flecheiro de Aruanda no cemitério da cachoeirinha (SP) e bem onde ficamos tinha um parte com matos e árvores, quando ela desceu para trabalhar chamou um cambone da casa e falou pra ele , vai lá no meio do mato que o meu cajado esta lá! O cambone ainda falou aonde minha mãe? Ela respondeu pode ir que você vai encontrar,  ele foi e voltou com o cajado na mão surpreso!

Dona Mulambo cruzou o Cajado, deixou as instruções de que elementos seriam colocado nele e até hoje me ensina como trabalhar com o mesmo. A Maria Mulambo com qual eu trabalho se intitula “bruxa do lixo”, nem de taça ela gosta, ela trabalha com coisas simples e do simples faz sua magia.
O cajado é referência de sua sabedoria na magia, pois assim como na bruxaria quem usa cajado são as bruxas anciãs, dona Mulambo me mostrou que esse instrumento não era apenas de magia, mas também para me guiar, para guiar os trabalhos de magia e nada melhor que uma bruxa velha para treinar uma bruxa nova.

Passou três meses desse trabalho e eu ingressei no curso de formação de sacerdotisa de bruxaria (que sempre foi o meu sonho além da Umbanda). Hoje assim como existem magias complementares a Umbanda (Magia Divina) e terapias (Reiki) eu fui atrás do conhecimento de bruxaria natural para complementar a minha formação religiosa e mesmo não misturando as energias, percebo que de certa forma todas elas se complementam. Tudo que for feito para ajudar o próximo é bem vindo.


FOTO: Ilustrativa de bruxa com Cajado

Na bruxaria em que me formei, aprendi que o cajado tem que ter o tamanho da pessoa. Lá ele serve para fazer círculos no chão, na terra, no ar, no mental, enfim, ele é representado pelo elemento terra, o cajado representa o poder masculino, a força, a vitalidade. Quando é batido no chão é representado pela ordem imediata das intenções que o mago está conjurando.

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