Devido a falta de registros formais sobre a epistemologia da religião Umbandista, muito do que vemos, lemos ou ouvimos falar vem através de lendas e/ou do "boca a boca", ou seja, alguém que falou para alguém e que até chegar em nossos ouvidos sempre vem com um "conto" à mais do que o original. Há diversas teorias sobre a existência da Umbanda, algumas datam especificamente o seu surgimento, outras defendem que ela já existia antes desta data e assim por diante.
Vamos narrar aqui a "história da Umbanda" com o que o autor tem de informação sobre este fenômeno. Meu primeiro contato com a história da Umbanda foi na Tenda Espírita Caboclo Ubirajara onde ingressei nas sessões de desenvolvimento mediúnico e recebi textos sobre este acontecimento. Muitos textos que circulam a internet estão sem referências bibliográfica, a maioria deles inclusive em Word. Eis, um dos textos que recebi e por este motivo, não tenho como passar a referência, mas posso dizer que é uma das versões da qual sou partidário a acreditar que aconteceu desta forma.
HISTÓRIA DA UMBANDA, O QUE EU POSSO DIZER?
Sei que Zélio Fernandino de Moraes (para maioria dos terreiros tido como "pai da Umbanda") nasceu no dia 10 de abril de
1891, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Aos
dezessete anos quando estava se preparando para servir as Forças Armadas
através da Marinha aconteceu um fato curioso: começou a falar em tom manso e
com um sotaque diferente da sua região, parecendo um senhor com bastante idade.
À princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou
ao seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra e diretor do Hospício
da Vargem Grande.
Após alguns dias de observação e não encontrando os seus
sintomas em nenhuma literatura médica sugeriu à família que o encaminhassem a
um padre para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu
sobrinho estivesse possuído pelo demônio. Procuraram, então também um padre da
família que após fazer ritual de exorcismo não conseguiu nenhum resultado.
Tempos depois, Zélio foi acometido por uma estranha
paralisia, para o qual os médicos não conseguiram encontrar a cura. Passado
algum tempo, num ato surpreendente Zélio ergueu-se do seu leito e declarou:
"Amanhã estarei curado".
No dia seguinte começou a andar como se nada tivesse
acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua
mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida,
figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto
velho chamado Tio Antônio. Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas
lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a
caridade.
O Pai de Zélio de Moraes Sr. Joaquim Fernandino Costa,
apesar de não frequentar nenhum centro espírita, já era um adepto do
espiritismo, praticante do hábito da leitura de literatura espírita. No dia 15
de novembro de 1908, por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado a
Federação Espírita de Niterói. Chegando na Federação e convidados por José de
Souza, dirigente daquela Instituição sentaram-se a mesa.
Logo em seguida,
contrariando as normas do culto realizado, Zélio levantou-se e disse que ali
faltava uma flor. Foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no
centro da mesa onde realizava-se o trabalho. Tendo-se iniciado uma estranha
confusão no local ele incorporou um espírito e simultaneamente diversos médiuns
presentes apresentaram incorporações de caboclos e pretos velhos. Advertidos
pelo dirigente do trabalho a entidade incorporada no rapaz perguntou:
"- Porque repelem a presença dos citados espíritos, se
nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Seria por causa de suas origens
sociais e da cor?"
Após um vidente ver a luz que o espírito irradiava
perguntou:
"- Porque o irmão fala nestes termos, pretendendo que a
direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que
tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala deste modo,
se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca
reflete uma aura de luz? E qual o seu nome meu irmão?"
Ele responde:
"- Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios,
devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um
culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a
missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos
humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos,
encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo
das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."
O vidente ainda pergunta:
"- Julga o irmão que alguém irá assistir a seu
culto?"
Novamente ele responde:
"-Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como
porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei."
Depois de algum tempo todos ficaram sabendo que o jesuíta
que o médium verificou pelos resquícios de sua veste no espírito, em sua última
encarnação foi o Padre Gabriel Malagrida.
No dia 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto, 30 –
Neves – São Gonçalo – RJ, aproximando-se das 20:00 horas, estavam presentes os
membros da Federação Espírita, parentes, amigos e vizinhos e do lado de fora
uma multidão de desconhecidos. Pontualmente as 20:00 horas o Caboclo das Sete
Encruzilhadas desceu e usando as seguintes palavras iniciou o culto:
"-Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de
pretos velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não
encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e
dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria e os índios
nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos
encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A pratica
da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste
culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo".
Após estabelecer as normas que seriam utilizadas no culto e
com sessões diárias das 20:00 às 22:00 horas, determinou que os participantes
deveriam estar vestidos de branco e o atendimento a todos seria gratuito. Disse
também que estava nascendo uma nova religião e que chamaria Umbanda.
O grupo que acabara de ser fundado recebeu o nome de Tenda
Espírita Nossa Senhora da Piedade e o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse as
seguintes palavras:
"- Assim como Maria acolhe em seus braços o filho, a
tenda acolherá aos que a ela recorrerem nas horas de aflição, todas as
entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem
mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas e
nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai."
Ainda respondeu perguntas de sacerdotes que ali se
encontravam em latim e alemão. O caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar
curado. Passou a atender outras pessoas que haviam neste local, praticando suas
curas.
Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai
Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu
aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente,
recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes
palavras:
"- Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo.
Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá",
Após insistência dos presentes fala:
"- Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é
lugá di nêgo".
Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua
humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa
que tinha deixado na terra e ele responde:
"- Minha caximba.,nêgo qué o pito que deixou no toco.
Manda mureque buscá".
Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais
estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta
religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até
hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de
Pai Antonio".
No outro dia formou-se verdadeira romaria em frente a casa
da família Moraes. Cegos, paralíticos e médiuns que eram dados como loucos
foram curados. A partir destes fatos fundou-se a Corrente Astral de
Umbanda. Após algum tempo manifestou-se um espírito com o nome de
Orixá Malé, este responsável por desmanchar trabalhos de baixa magia, espírito
que, quando em demanda era agitado e sábio destruindo as energias maléficas dos
que lhe procuravam.
Dez anos depois, em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas
recebendo ordens do astral fundou sete tendas para a propagação da Umbanda, sendo elas as seguintes:
Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia;
Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição;
Tenda Espírita Santa Bárbara;
Tenda Espírita São Pedro;
Tenda Espírita Oxalá;
Tenda Espírita São Jorge;
Tenda Espírita São Jerônimo.
As sete linhas que foram ditadas para a formação da Umbanda
são: Oxalá, Iemanjá, Ogum, Iansã, Xangô, Oxossi e Oxum.
Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de
10.000 tendas a partir das acima mencionadas. Zélio nunca usou como profissão a mediunidade, sempre
trabalhou para sustentar sua família e muitas vezes manter os templos que o Caboclo
fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos
espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitara ajuda
monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto
ser oferecido a ele.
O ritual sempre foi simples. Nunca foi permitido sacrifícios
de animais. Não utilizavam atabaques ou qualquer outros objetos e adereços. Os
atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas
fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da
Piedade não utiliza em seu ritual até hoje.
As guias usadas eram apenas as determinadas pelas entidades
que se manifestavam. A preparação dos médiuns era feita através de banhos de
ervas e do ritual do amaci, isto é, a lavagem de cabeça onde os filhos de
Umbanda afinizam a ligação com a vibração dos seus guias.
Após 55 anos de atividade, entregou a direção dos trabalhos
da Tenda Nossa Senhora da Piedade a suas filhas Zélia e Zilméia, as quais até
hoje os dirigem. Mais tarde junto com sua esposa Maria Isabel de Moraes,
médium ativa da Tenda e aparelho do Caboclo Roxo fundaram a Cabana de Pai
Antonio no distrito de Boca do Mato, município de Cachoeira do Macacú – RJ.
Eles dirigiram os trabalhos enquanto a saúde de Zélio permitiu. Pai Zélio Fernandino de Moraes, faleceu aos 84 anos no dia
03 de outubro de 1975.
A parte mais linda é a da humildade do Pai Antonio!
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